Expostas as mordidas e mesadas dos Correios e do Instituto de Resseguros do Brasil, dois ilustres petistas avançaram sobre os seus companheiros que defenderam a instalação de uma CPI para apurar as malfeitorias da ECT. Um foi o líder do partido na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia. O outro, o senador Cristóvam Buarque. Num elenco em que abundam prontuários, Chinaglia e Buarque formam uma patrulha de parlamentares com biografia. Pena.
Buarque se aborreceu quando o senador Eduardo Suplicy lhe contou que recebeu centenas de mensagens eletrônicas (911) felicitando-o por apoiar a criação da CPI: "E eu estou recebendo agora e-mails e cartas dizendo que o único homem sério do Senado é você", queixou-se o ex-ministro da Educação.
Chinaglia se contrariou com a conduta dos doze deputados petistas que ajudaram a criar a CPI: "Não acho justo com o conjunto (?) porque ficam parecendo que são melhores que os outros, e não são."
Buarque e Chinaglia ofendem a Lei de Serpico, o detetive nova-iorquino que tomou um tiro na cara numa boca-de-pó do Harlem (Al Pacino no filme): "É o policial corrupto quem deve ter medo do policial honesto e não o contrário."
Cristóvam Buarque se aborrece porque dizem que Eduardo Suplicy é o único "homem sério do Senado". O doutor poderia ter apoiado a criação da CPI e, nesse caso, receberia uma parte das 911 mensagens recebidas pelo colega. Pode sustentar que agiu de acordo com seus princípios ao negar apoio à CPI, mas não pode se queixar das mensagens recebidas por Suplicy. Pela Lei de Serpico o senador paulista fez o certo.
Chinaglia não acha justo que os doze da CPI fiquem parecendo "melhores que os outros". Parecendo para quem? Para o comissário José Dirceu e para o companheiro Roberto Jefferson? Certamente não. Talvez façam gosto à patuléia, mas nesse caso haveria dois caminhos: os doze não pediam a CPI e ficariam parecidos com "os outros". Ou, "os outros" assinavam o requerimento e ficariam parecidos com os doze.
Quando batalhava, em 1995, pela CPI das maracutaias no Sistema de Vigilância da Amazônia, o Sivam, certamente Chinaglia via as coisas de outra maneira. Também pensava diferente quando coletou assinaturas para formar uma CPI que apurasse a compra de votos de deputados pelo Planalto. Em 1998 sua paixão pelas CPIs o levou a defender a criação de uma que cuidasse, entre outras coisas, do Dossiê Cayman, a falcatrua lançada contra FFHH. (É justo que se registre: Lula desdenhou esse papelório.)
Em 1994 verificou-se que mais da metade dos recursos arrecadados legalmente pelo PT para a campanha de José Dirceu ao governo de São Paulo tinha saído das arcas das empreiteiras. Nessa ocasião, Chinaglia reconheceu que a generosidade dos maganos criara "constrangimento" para o partido. Passaram-se mais de dez anos, os empreiteiros se apaixonaram pelas PPPs do BNDES e Chinaglia acha que diante do caso da ECT (e do IRB) o melhor a fazer é constranger quem pede CPI. Faria muito melhor o doutor se batalhasse para que o Ministério da Saúde obtivesse para os hospitais públicos o ressarcimento do que eles gastam com clientes dos planos de saúde privados. Pelo menos era isso que pedia ao governo dos outros quando estava na oposição.
Não se trata de pedir a Cristóvam Buarque e Arlindo Chinaglia que, como governistas, tenham a combatividade que mostraram na oposição, Pede-se apenas que respeitem a inteligência alheia, como conseguiam que se respeitasse a deles quando tinham apenas idéias e propósitos.
o globo
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