folha de s paulo
SÃO PAULO - Ante a entrevista da agora chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a Luiz Maklouf Carvalho, ontem publicada, além de rememorar o horror que é a tortura, convém lembrar também que, bem-feitas as contas, os torturadores ganharam.
Explico: a tortura era, além de um exercício de animalidade, uma forma de preservar o poder sem maiores contestações. Preservar o poder para executar uma política econômica que, na hipótese mais branda, não reduzia um milímetro a histórica desigualdade brasileira, a chaga sempre aberta na pele da pátria.
É sempre bom recordar que foi durante o ciclo autoritário 1964/85 que a desigualdade cresceu, apesar de ter sido, aí, sim, promovido um "espetáculo do crescimento". Crescimento, no entanto, canalizado para o andar de cima, como é praxe na história da República.
O que se faz agora nesse capítulo? Transfere-se mais renda ainda para o andar de cima, como conseqüência inescapável dos juros obscenos. E, na área social, leia-se a análise ultra-comedida de um amigo do presidente da República, o empresário Oded Grajew, que não pode ser acusado de fazer parte da risível conspiração tucano-midiática: "Tem-se feito pouco na questão de preparar as pessoas para sair dos programas de transferência de renda".
"Transferência de renda" é o eufemismo para "sopão dos pobres".
É isso o que estão fazendo no governo os que foram torturados ou perseguidos de uma forma ou de outra.
Nem foi preciso aplicar mais choques elétricos para que se rendessem. Alguns, aliás, o fizeram gostosamente, pois o poder corrompe. Outros o fazem por falta de idéias. Ou falta de uma idéia ao menos.
Não podem nem mesmo gritar, como antes, "ousar lutar, ousar vencer". Não podem porque nem lutam nem ousam. Logo, perdem. Os torcionários festejam.
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