domingo, maio 22, 2005

GOVERNO EM CRISE


 Ao participar com um grupo de colegas de um jantar promovido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira, o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PSB), alertou para o perigo de se instaurar no país uma "república do baixo clero". Infelizmente, esse processo, ao que tudo indica, já se encontra em estágio avançado.
Os graves equívocos cometidos pelo PT e pelo Planalto no relacionamento com partidos aliados e com o Congresso, que culminaram na eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara, terminaram por fomentar uma espécie de crise permanente à qual novos ingredientes -alguns deles explosivos- são adicionados a cada dia, sem que surja em cena uma força estruturadora, capaz de assumir a direção.
Pressionado, o presidente da República, que poderia desempenhar esse papel, emite sinais de hesitação e de que vive o impasse político como um dilema existencial. "Não vou vender minha alma ao Diabo", afirmou a seus comensais durante o referido jantar. Enquanto isso, dando repetidas demonstrações de descoordenação, sem projetos e desfalcado de parte do capital político que amealhou nas urnas, o governo não consegue impedir a selvagem escalada do fisiologismo e vê-se exposto à crescente agressividade da oposição.
Se o quadro já era difícil, com a eclosão do escândalo dos Correios, agravou-se. Rapidamente protocolado, o pedido de abertura de uma CPI para investigar o caso tornou-se uma ameaça que dificilmente o Planalto terá condições de contornar. E a perspectiva de uma CPI, por mais controles que se possam tentar impor ao inquérito, não é nada auspiciosa para o governo.
Manietado na frente política, resta ao Executivo apostar suas fichas no bom desempenho da economia e na avaliação positiva que o presidente tem obtido nas pesquisas de opinião. Embora ambos constituam, de fato, ativos políticos para a reeleição, não é certo que se mantenham valorizados nos próximos meses.
No caso da economia, não há dúvida de que está em curso um processo de desaceleração do crescimento induzido pela política de juros do Banco Central -que não cessa de conquistar adversários, mesmo entre as correntes mais conservadoras do pensamento econômico.
Ao mesmo tempo, a valorização do câmbio constitui não apenas um risco para o futuro desempenho das exportações mas também uma fonte potencial de pressão inflacionária. Um passo em falso, um movimento internacional imprevisto, algo, enfim, que mude o humor dos mercados poderá levar a uma rápida desvalorização do real, que traria consigo, como já se observou mais de uma vez no passado, um "estoque" de inflação a ser reprimido por novos aumentos da taxa de juros.
Quanto à boa imagem de Lula, é até provável que o encanto perdure, mas poderá ser quebrado, caso não haja ganhos reais a apresentar. E, para um governo que conquistou o poder comprometendo-se com mudanças, o que se observa até aqui não chega a ser de entusiasmar.
folha de s paulo

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