O Ministério do Desenvolvimento anunciou a introdução de salvaguardas (barreiras comerciais) contra a China dentro das regras da OMC (Organização Mundial de Comércio). Os instrumentos específicos de proteção comercial devem permitir a introdução de tarifas de importações adicionais e restrições quantitativas (cotas) em setores prejudicados pela expansão das exportações chinesas. As salvaguardas somente devem ser adotadas após uma ampla investigação.
As medidas defensivas, no entanto, parecem plenamente justificáveis. De janeiro a abril, as importações provenientes da China cresceram 58,3% em relação ao mesmo período do ano passado. No setor têxtil, houve um crescimento de 148%; nos produtos de vídeo, 227%.
Em um processo mais avançado, na semana passada, os EUA impuseram restrições quantitativas à entrada de seis categorias de vestuário importado da China para proteger o seu setor têxtil. Washington pretende limitar a expansão dos importados chineses a 7,5% ao ano.
A União Européia (UE), por sua vez, estimou em 500% o aumento nas exportações de têxteis chineses, desde janeiro, quando se extinguiu o sistema global de cotas para esses produtos fabricados em países em desenvolvimento. Diante disso, os europeus também já deram sinais de que podem impor restrições à China.
Diante dessas reações, Pequim anunciou o aumento de tarifas nas exportações de 74 produtos têxteis, a partir de junho. A decisão é uma tentativa de aplacar as pressões, que se estendem também ao câmbio fixo mantido por aquele país. A moeda chinesa mantém-se ancorada à norte-americana desde 1995, no patamar de 8,28 yuan por dólar. Essa paridade cambial é um dos fatores que explicam o extraordinário dinamismo do comércio exterior da China, que teve superávit comercial com os EUA de US$ 162 bilhões em 2004.
Os conflitos comerciais e financeiros envolvendo a China passaram a assumir uma dimensão crucial, devido à sua posição de relevo na ordem econômica mundial. Por um lado, a economia chinesa depende das exportações para o mercado norte-americano, realizadas em grande parte por empresas dos próprios EUA. Por outro, os EUA dependem das compras de seus ativos financeiros pelo Banco Central da China para financiar seu déficit em conta corrente, mantendo as taxas de juros baixas e permitindo a expansão da economia. As reservas chinesas já ultrapassam US$ 600 bilhões, sendo que 75% delas são em dólar.
Assim, a valorização do yuan e, por conseguinte, a desvalorização do dólar, poderiam impor perdas significativas ao BC chinês. Além disso, a estabilidade do yuan tem um papel importante no comércio regional da Ásia: as empresas chinesas importam peças e componentes dos vizinhos, montam os produtos e exportam para os países ricos. A maioria dos produtos exportados pela China tem uma agregação de valor estimada em 15%. Enfim, todos esses fatos indicam que a flutuação do yuan não será uma tarefa trivial. Ela exigirá, além de pressões, tempo e coordenação entre as economias nacionais, cada vez mais interdependentes.
folha de s paulo
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