SÃO PAULO - Jeffrey Sachs, um dos mais badalados economistas do planeta, reproduziu em Brasília a teologia dos juros. Seriam altos por causa do passado (imagino que seja o passado de caloteiro do país).
Parece a história de Adão e Eva, aplicada à economia. Porque comeram a maçã ficamos todos os seus descendentes portadores do pecado original.
É claro que o passado pesa. Mas está longe de haver uma relação perfeita de causa e efeito.
Afinal, a Rússia deu um calote bem mais recente que o mais recente do Brasil e acaba de ser elevada à categoria de "investment grade". A Argentina também deu calote, o mais estrepitoso deles, e seus juros são hoje bastante baixos.
A Espanha deu mais calotes que o Brasil e a Argentina e nem por isso paga hoje por eles.
Dirão os profetas da obviedade que são circunstâncias diferentes. São mesmo. A Espanha, por exemplo, está blindada (para o bem ou para o mal) por ser sócia de um clube de gente fina (a União Européia). Mas, se as circunstâncias presentes (e futuras) são determinantes, então o passado é menos importante do que quer fazer crer a teologia dos juros, certo?
O que conta é lucro, em primeiríssimo lugar, e segurança, que está dada pelas condições presentes e pelo futuro imediato, mais do que pelo passado remoto ou próximo.
Para o governo Lula, no entanto, vale a teologia, de que dá prova a economia feita no primeiro trimestre, na obscena altura de 6,1% do PIB. É muitíssimo mais do que os 4,25%, tidos pelo próprio governo como a cota indispensável para purgar o pecado original, do país e do PT.
Azar do país se o governo acredita na teologia dos juros. Mas não lhe faria mal ao menos olhar para outro trecho da missa de Sachs: "Claramente é necessário mais espaço fiscal para algumas das coisas que o Brasil precisa fazer".
FOLHA DE S.PAULO
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