QUITO - Nunca os EUA perderam uma disputa para a OEA (Organização dos Estados Americanos), mas tudo tem uma primeira vez.
Havia três candidatos. Os americanos começaram defendendo o de El Salvador, que perdeu de cara. Depois apoiaram o do México, que retirou a candidatura na última sexta-feira. Sobrou Miguél Insulza, do Chile, que deve ganhar por W.O. amanhã.
Umas três semanas atrás, o mexicano Ernesto Derbez estava empatado com Insulza em 17 a 17. Desde então, os EUA intensificaram o apoio ao mexicano, enquanto o Brasil se moveu freneticamente pró-chileno. Foi do gabinete de Celso Amorim, por exemplo, que a chanceler do Paraguai, Leila Rachid, telefonou para Insulza comunicando a mudança de voto a seu favor. Não por acaso.
Amorim mal disfarçava a alegria ao saber da desistência de Derbez e da virtual vitória de Insulza. Ele desembarcava em Quito, vindo de Santiago. Olhou para assessores e jornalistas e comemorou: "O Derbez desistiu!". O tom não era de vitória dos chilenos. Era de vitória do Brasil. Ou seria de derrota dos EUA?
Essa história da OEA não significa que os EUA estejam ficando pequenos nem que o Brasil esteja se tornando grande. Mas mostra que o Itamaraty gosta de jogar e, de preferência, contra os americanos.
Como tudo foi na semana em que Condoleezza Rice visitou Brasília, cercada de salamaleques, deduz-se que o governo Lula mantém uma postura de morde-e-assopra com Washington. Visitas, sim. Troca de elogios, sim. Trocas comerciais, sim. Mas os "yankees" continuam sendo os "yankees", sobretudo agora, neste nosso mundinho cada vez mais globalizado e mais unipolar, até onde é possível captar a ambigüidade.
Confirmada a vitória de Insulza amanhã, os EUA perdem e o Brasil e os "independentes" ganham mais um fórum. O falcão continua falcão, mas é de grão em grão que a galinha enche o papo. O problema é que a gente sabe quem, no fim, devora quem.
FOLHA DE S.PAULO
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