O Brasil deveria dar um segundo passo e devolver parte do dinheiro do FMI, pré-pagando um empréstimo que tem juros mais altos. Essa é a sugestão do ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn. As reservas cambiais, na prática, ficam maiores com o fim do acordo com o Fundo. Desaparece a divisão de reserva líquida e bruta. O país tem, ao todo, US$ 62 bilhões. O relatório de inflação divulgado ontem comprova que o BC mudou a forma de perseguir a meta.
O acordo com o FMI estabelecia uma divisão das reservas nesses dois grupos, porque os dólares emprestados pelo Fundo só poderiam ser usados com a autorização do credor. Quando o acordo acaba, some essa divisão e as reservas disponíveis aumentam.
Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central e sócio da Gávea Investimentos, já foi funcionário do FMI. Ele explica que nem todo dinheiro do Fundo é barato. Uma parte do empréstimo concedido ao Brasil foi dentro do programa emergencial, o SRF (Supplemental Reserve Facility). E esse é um dinheiro mais caro:
— Acho que o Brasil deveria pré-pagar essa parte da dívida. Ela é cara e não está nos fazendo falta. Há reservas suficientes. A vantagem é que se economiza com juros; e não é pouca coisa. O governo deveria fazer as contas e quitar este empréstimo. Vai melhorar a relação dívida/exportação e a percepção de risco.
O Fundo continuará vindo, avisa Ilan. Não apenas a visita anual que todo sócio do FMI recebe. Continuará aparecendo a cada três meses, mesmo sem o acordo, porque esta é a rotina em países que têm empréstimo a pagar.
O relatório de inflação confirma a interpretação de que o BC mudou a forma de perseguir a meta, alongando o horizonte para prazos maiores do que o ano calendário. Nesse balanço sobre a situação da economia que o Banco divulga a cada três meses, está repetido o que foi publicado na última ata de inflação: em intervalos maiores, como 12,15 e 18 meses, o país está com projeção de inflação até abaixo da meta. Confira no gráfico publicado no relatório. Nele, o BC mostra que vê a inflação como um processo ao longo do tempo, e não apenas como uma meta para dezembro. No texto, o Banco Central diz que seu modelo projeta uma inflação de 5,5% este ano, acima da meta, mas abaixo das previsões de mercado. Para o ano que vem, o modelo do BC prevê uma queda mais forte, chegando ao fim de 2006 em 3,8%.
— O gráfico mostra uma meta contínua. Na nossa época, olhávamos assim, sem ficarmos presos ao ano calendário, mesmo que isso não fosse explicitado na comunicação. Mas a meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional é para cada ano em separado. A mudança que houve agora foi de ênfase. O Banco Central não abandonou o 5,1% para este ano, apenas está dando ênfase à trajetória que mostra que, no ano que vem, está claramente convergindo para o centro e depois ficando até abaixo — disse Ilan Goldfajn.
Em outros países que usam metas de inflação, não se fixa meta para ano calendário. Até porque o importante é a trajetória, a tendência dos preços.
No resto do relatório, o Banco Central faz uma análise otimista em relação à economia: diz que o país continua crescendo, mas num ritmo mais compatível com a manutenção da inflação sob controle. Lembra que sua preocupação anteriormente era com a velocidade de ampliação da oferta para atender à demanda. Constata que houve investimento forte no ano passado, o maior desde 1994. Isso significa que haverá o aumento da oferta de produtos. O relatório reforça a impressão de que os juros vão parar de subir, mas o BC alerta, de novo, que tudo vai depender das condições da economia internacional. E, para garantir um mundo mais tranqüilo, temos que combinar com os russos; aliás, com os americanos e os chineses.
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