quarta-feira, março 30, 2005
O DIA Online-Dora Kramer: Suspeitos em tempo integral
Escolhido relator de uma Comissão Parlamentar de Inquérito especialmente complicada, a da privatização do setor elétrico, o deputado Luiz Carlos Santos (PFL-SP) aproveitará o ensejo da instalação (ainda sem data definida) para convidar os colegas de Parlamento a um esforço concentrado e coletivo no sentido de darem um pouco de lustro à própria imagem.
A primeira coisa a fazer é parar de fingir que estamos numa situação normal, que as comissões parlamentares de inquérito são percebidas da mesma maneira de antes pela população, que podemos iniciar qualquer processo de investigação sem antes encararmos o fato de que, hoje, somos os suspeitos número um e em tempo integral. A instituição está no fundo do poço”, diz o deputado.
No tocante às comissões de inquérito, o processo de desqualificação vem de há algum tempo e culminou com o vexaminoso fim da CPI do Banestado, onde houve de tudo: brigas políticas, tentativas de achaques, produção de mecanismos de suposta investigação com objetivo real de servir a chantagens de várias naturezas, quebras de sigilos indiscriminadas, convocações de pessoas alheias ao objeto da comissão e uma série de distorções.
Tudo isso resultou na mais completa impunidade por absoluta ausência de condições de se distinguirem mocinhos e bandidos. Ficaram todos nivelados por baixo, ganhando, evidentemente, quem de fato tinha culpa no cartório.
Mas qual a relação da CPI da privatização do setor elétrico com a desmoralização crescente dos políticos e a providência proposta por Luiz Carlos Santos ?
Como o instituto da comissão parlamentar de inquérito vem sofrendo o desgaste junto com o Poder Legislativo como um todo, a idéia seria utilizar agora exatamente o mesmo instrumento para iniciar um caminho em direção à recuperação da imagem perdida – ou nunca conquistada.
Como? Fazendo uma investigação bem feita, sem partidarização nem abertura de espaço para movimentações de múltiplos e escusos sentidos.
Na opinião de Luiz Carlos Santos, são tantos os interesses envolvidos numa CPI como a do setor elétrico que, se seus integrantes não tomarem a iniciativa de admitir que existe suspeição sobre ela, terminam eles mesmos sob suspeição.
“É preciso expor a realidade e não ficar fazendo de conta que a péssima imagem dos políticos é produto de mera ficção ou má vontade”. O deputado cita o exemplo de recente novela de televisão em que havia cinco personagens masculinos de destaque, três deles políticos: um prefeito, um deputado e um senador. Os outros dois eram um jornalista e um bicheiro aposentado.
“O jornalista era um herói, o bicheiro terminou com a mocinha e os políticos eram todos vigaristas quando não também assassinos. Ora, o autor não criou isso do nada nem me parece que tenha havido reação de estranheza na sociedade”, argumenta.
A CPI do setor elétrico, cuja investigação abrangerá o período do Governo Fernando Henrique Cardoso é, na visão generalizada dentro do Parlamento, especialmente delicada.
Se mal conduzida – ou conduzida para o mal – pode perfeitamente se prestar às mesmas deformações ocorridas com a comissão de inquérito instalada para apurar operações financeiras ilegais feitas através do Banestado.
Redução ilimitada
Vaidoso, o deputado Luiz Carlos Santos admite: revela qualquer segredo na vida, mas não confessa a idade. Ao cardiologista, por exemplo, o deputado subtrai 10 anos.Aos seres em geral, aposta na redução ilimitada.
Outra dia um repórter telefonou querendo saber, “afinal de contas”, qual era a idade dele, porque no arquivo do jornal havia cinco registros diferentes.
“É a mais baixa, meu filho”, optou, sem falar em algarismos.
Preparação
A direção do PMDB vai sentar com os recém-demitidos Amir Lando, do Ministério da Previdência, e Carlos Bezerra, da presidência do INSS, para uma conversa séria a respeito da posição de ambos no tocante aos projetos eleitorais do Governo federal.
Por “direção” aí entenda-se a cúpula partidária alinhada com a oposição e atualmente em fase de inauguração de um novo tipo de relação com o Palácio do Planalto – uma coisa assim meio cada um com seu cada qual porque o futuro a Deus pertence.
O senador Lando e o ex-senador Bezerra interessam sobremaneira ao grupo – cuja tese predileta por ora é a da candidatura pemedebista própria para a Presidência da República – pelo poder de influência dos dois nos respectivos estados.
Amir Lando controla o diretório de Rondônia, e Carlos Bezerra dá cartas na regional do PMDB em Mato Grosso. A expectativa é a de que a demissão lhes tenha semeado fel às almas.
A decisão sobre o apoio ou não a Lula será tomada em junho de 2006 numa convenção em que os partidários da reeleição precisarão obrigatoriamente de dois terços dos votos dos delegados para mudar a resolução, tomada em dezembro, a favor da candidatura própria.
Os oposicionistas – se na oposição continuarem, é claro – vão precisar de menos votos, mas não poderão dispensar forças, para manter as coisas como estão.
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