MADRI - Volto a meu colunista liberal favorito, chamado Martin Wolf, principal jornalista econômico do jornal "Financial Times".
Wolf, em seu artigo para o jornal britânico, reproduzido na quarta-feira pelo brasileiro "Valor Econômico", ataca um dos dogmas dos neoliberais tupiniquins -o de que elevado gasto público faz mal tanto ao crescimento como à competitividade.
Wolf é direto: propõe abandonar "o debate que toma a forma de "o setor público é ruim, o setor privado é bom" ou vice-versa". É exatamente o tipo de debate que domina a agenda no Brasil, país habituado ao raciocínio binário, ao preto ou branco, sem nem sequer tentar ver dezenas de outras cores e matizes.
O artigo está acompanhado de tabelas que provam que não há nenhuma ligação entre gasto do governo e performance econômica, nem para o bem nem para o mal. "O que é marcante é o lento crescimento do PIB per capita em países de baixo gasto público, como Japão e Suíça, e o alto crescimento em países de alto gasto, como Finlândia e Suécia".
Wolf chama também a atenção para o fato de que o governo Tony Blair, que nada tem de esquerdista ou de populista, aumentou a fatia do gasto público no PIB de 37,5% em 2000 para 45,2% em 2006 (a coluna tem como referência o orçamento para o próximo período). A conclusão é escandalosamente óbvia: "O que de fato importa é tanto a eficiência com a qual o dinheiro é arrecadado quanto a com que é gasto".
Nesse ponto, entram fatores como a qualidade das instituições, particularmente da administração pública e do Judiciário, a segurança da propriedade, a probidade e o espírito público dos políticos, a qualidade da educação, da saúde e da infra-estrutura -itens, TODOS, em que o Brasil capenga, para dizer o menos.
Pena que o óbvio só entre tangencialmente no debate brasileiro. Tudo o que se prega por aqui é a redução do Estado a pó, como se todos os problemas sumissem com ele.
É um país obscenamente pobre, até de idéias.
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