RIO DE JANEIRO - Cientistas políticos dizem que é injusto e inútil reclamar do baixo nível de nossos parlamentares, porque eles seriam a fiel e legítima representação do que somos, com o melhor e o pior dos brasileiros que os elegeram. Ou seja, cada povo tem o Congresso que merece. Mas acordar, abrir o jornal e ver a foto de Garotinho e de Severino abraçados, sorridentes e vitoriosos ninguém merece.
Severino Cavalcanti, mais do que papa do baixo clero, é uma metáfora. Do nordestino pobre, feio e corajoso que vence um doutor bigodudo, "estrangeiro" e culto em nome dos anônimos e dos humildes. E de sua fé. É o povo no poder, como gritávamos nas ruas em 1968. Agora agüenta, Zé Dirceu.
Se bem que o "povo" do Severino é, como se diz no Nordeste, "meu povo", "meu pessoal", "minha gente", que, no caso, são os colegas que o elegeram exatamente para isto, para melhorar-lhes a vida, dar-lhes dinheiro, viagens, empregos, privilégios e migalhas de poder.
Por sua gente, sua história e sua beleza, o Nordeste não merece. Mas muito do seu atraso e da sua pobreza se deve aos políticos que elege. Pois são justamente desses Estados todos os integrantes da nova Mesa da Câmara. Faz sentido.
Se o Congresso expressa o que somos, então -ao contrário do que dizem Lula e Duda- o pior de nós também é ser brasileiro. Não são "300 picaretas", são 300 brasileiros típicos, alguns até arquetípicos, que, antes e acima de tudo, querem se dar bem. Alguns para emergir da pobreza, outros, das ancestrais oligarquias, para partilhar do "pudê", todos com grande apetite pelo dinheiro público. Muitos são honestos, alguns são competentes, mas raros são honestos e competentes. Como o Brasil em geral. Mas a maioria -como a que elegeu Severino- se preocupa mesmo é em manter o mandato e subir na vida. Certamente quem os elegeu faria o mesmo em seu lugar.
Eles se merecem.
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