Folha de S.Paulo -ELIANE CANTANHÊDE: "20 mil, 30 mil..." - 18/02/2005

BRASÍLIA - Não foi um eleitor descrente, um jornalista cáustico ou um deputado qualquer, mas, sim, o próprio presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), quem admitiu que o troca-troca entre partidos não é à toa, mas em espécie. Tá danado.
"Um recebe dez, outro recebe 15, outro recebe 20...", disse à Folha.
"Vinte o quê? reais?", perguntei. E ele, claríssimo: "Vinte mil, 30 mil..."
Depois, Severino disse que, se houver provas contra essa "excrescência", abre inquérito e cassa mandatos. Pois está bem na hora de colher provas, principalmente na gangorra em que se transformou a disputa entre o PT e o PMDB nos últimos dias para ter a maior bancada na Câmara dos Deputados.
Na quarta-feira, numa hora era a do partido do presidente da República, noutra, a do partido do Garotinho, do Quércia, do Jader e do novo presidente do Senado, Renan Calheiros. É que o PMDB, além de disputar com o PT, vive uma eterna guerra interna entre governistas e oposicionistas -e qualquer que seja o governo.
Severino não tinha dúvidas ao apostar: o PT ganharia essa. Simples: "O governo vem aqui, pega um, depois pega outro..."
Será que o presidente da Câmara acha que o governo também usa o método político do "20 mil, 30 mil..." para "pegar" uns e outros? Isso é importante. Até porque, ao falar em cassações de mandatos, ele fez questão de frisar: os de quem vende e também os de quem compra. Se o governo e os governistas compram...
Uma sugestão para começar a coleta de provas é ir atrás de dois tipos: dos que trocam tanto de partido como de roupa e dos que, como Severino definiu, "entram de manhã, saem de tarde, voltam de noite". Leilão?
Nesses casos, o troca-troca de partido dá um bom pé-de-meia e, se o deputado for vivo mesmo, deve fazer como o próprio Severino: guardar o seu rico dinheirinho em casa.
A lógica é de uma objetividade e de uma clareza que só o "baixo clero" sabe ter: "Para que guardar em banco? Para encher os banqueiros de lucro?". Tudo faz muito sentido.