Hugo Chávez venceu, como previsto aqui na coluna pelo cientista político Octávio Amorim Neto, e as primeiras declarações do vitorioso parecem indicar que ele quer manter, ao longo do mandato que lhe resta, um pouco mais de temperança. Elogiou os eleitores que votaram contra ele pela paciência da longa espera pelo voto e disse que não há razão para que os dois lados não tenham um projeto comum. A oposição, no entanto, reagiu mal ao levantar dúvidas sobre a legitimidade do pleito. Na Venezuela, os dois lados se acusam sempre de fraudar as regras democráticas — e ambos têm razão. Chávez foi o comandante do golpe fracassado de 1992 que produziu a grotesca cena de um tanque subindo a escada da entrada principal do Palácio Miraflores. Durante seu governo, aproveitou o momento de maior popularidade para convocar novas eleições, renovar e ampliar seu mandato, eleger uma constituinte que, sob seu comando, mudou regras eleitorais em seu favor.
A oposição perdeu a razão quando ela mesma tentou um golpe em 11 de abril de 2002. Chávez ficou dois dias fora do poder e voltou, ajudado pelo apoio que tem nas Forças Armadas, das quais afastou comandantes que discordavam dele e promoveu os militares que o apoiavam. Manteve, durante os seis anos de governo, uma política de semear e escalar o conflito na sociedade, fazendo o papel oposto que se espera de um presidente. Brigou com a Igreja, os partidos tradicionais, a imprensa e os empresários, que deflagraram, no começo do ano passado, uma greve geral de dois meses contra o governo.
A economia cresce forte este ano, mas é apenas a recuperação do PIB perdido. A Venezuela encolheu 18% do PIB em dois anos, exatamente como resultado da fratura política que opõe duas partes irreconciliáveis de um mesmo país.
Octávio Amorim Neto lembra que durante a campanha o presidente teve uma atitude mais moderada e conciliadora para atrair o centro. É uma das causas da vitória. Se continuar nessa mesma linha, há uma pequena chance de o país superar o trauma dos últimos anos. Outra causa da vitória foi o cofre da PDVSA. Jorraram bolívares das receitas da estatal de petróleo para os programas sociais nos redutos eleitorais do governo. A vasta pobreza venezuelana aumentou durante a recessão dos últimos dois anos. É para onde deveria mesmo ir o dinheiro público, mas não do cofre de uma empresa. Como diz a revista “The Economist”, tudo na Venezuela foi feito para a vitória de Chávez e não por ser o melhor para o país. A oposição faz o movimento oposto: tudo contra o presidente, sem ver o que é melhor para o país.
— É triste essa atitude da oposição de não aceitar o resultado. Ambos os lados precisam fazer gestos de conciliação. A oposição sustenta que existem prisioneiros políticos e quer a liberação de 60 deles. Hoje eles só se juntam pelo ódio ao presidente. O grupo tem desde ex-PC até extrema direita — diz Octávio Amorim Neto.
O Brasil acerta se continuar com a atitude de ser amigo da Venezuela — e não de Hugo Chávez. No início do governo Lula, o Brasil demonstrou ter um lado nessa briga. Depois evoluiu para uma atitude mais condizente com a tradição da nossa diplomacia. É o mais sábio: afinal Hugo Chávez passará e a Venezuela vai continuar.
A questão é quando acabará o período chavista. Com esta vitória, ele tem assegurado o mandato até janeiro de 2007. Mas há uma controvérsia já garantida para a eleição de 2006: a oposição diz que, como ele se submeteu em 2000 a nova eleição, esse seria seu segundo mandato; já ele diz que este é o primeiro mandato da nova constituição. Se Chávez se candidatar novamente e for eleito pela terceira vez, ficará no governo até 2012.
Mas um horizonte tão longo só é sustentável se ele encontrar o caminho da pacificação. Hoje, a imprensa já não faz jornalismo, e sim campanha. Ela se diz atacada pelo presidente até fisicamente: a “Globovision” e o jornal “El Nacional” já foram vítimas de bombas lançadas pelos partidários do presidente, os chamados Círculos Bolivarianos. Os jornalistas trabalham com colete a prova de bala e máscaras contra gás lacrimogêneo. O país sangra na ferida aberta pelo estilo belicoso do presidente e pela atitude intransigente da oposição. Em tudo, a Venezuela é o exemplo do que não deve ser feito, o exemplo a não ser seguido. O PT, que enviou representantes para Caracas, deveria aprender lá como não se deve fazer quando no comando de um país. A fratura política, a tentativa de controle da imprensa, o ataque à propriedade produziram paralisia econômica que machucou, principalmente, os mais pobres, a quem, supostamente, o governo queria beneficiar. A elite venezuelana transferiu seu capital e, em alguns casos, o comando de suas empresas para Miami. Ninguém ganha num ambiente assim.
NA PESQUISA feita pelo Instituto Coppead, com 100 dos maiores exportadores brasileiros, os portos que tiveram mais alta avaliação foram Rio Grande e Sepetiba, e não Santos, como dissemos. E a pior nota ficou com o porto de Vitória, e não Tubarão. Espero que a coluna não perca nota por esse erro.
Publicado em: Tue, Aug 17 2004 10:35 AM
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