O Estado de S.Paulo
A partir das manifestações de junho, a presidente Dilma e
seus ministros trataram de injetar doses diárias maciças de otimismo na
economia, destinadas a contrapor ao que entenderam como campanha de
pessimismo disseminada por analistas da economia, a tal "guerra
psicológica", que "instila desconfianças" e "inibe investimentos", a que
se referiu a presidente em sua mensagem de fim de ano no rádio e na TV.
No entanto, essa grande operação destinada a mudar corações e mentes
não foi capaz de inverter os resultados insatisfatórios, especialmente o
resumo de tudo: a repetição de um avanço pífio do PIB, desta vez algo
em torno dos 2,2% em 12 meses, conjugado com inflação muito alta, perto
dos 6,0% ao ano, e necessidade de juros básicos (Selic) de 10,0% ao ano,
um pouco acima dos 4,0% reais (descontada a inflação), para tentar
segurar a alta de preços.
Insistir em que foi a crise global que impediu a entrega de
resultados melhores é ignorar que, entre os principais países
emergentes, esses números fracos só foram registrados no Brasil, embora a
crise fosse comum a todos.
A principal decisão de política econômica do governo Dilma foi
turbinar o consumo. Para isso, derrubou os juros a perto de 2% em termos
reais (descontada a inflação), acionou o crédito, que até agosto
cresceu em torno de 15% ao ano, e deixou que as despesas públicas
corressem soltas.
Logo depois da virada do ano, o Banco Central advertia que teria de
reduzir a ração de moeda da economia e puxar os juros básicos para cima.
Mesmo assim, o governo Dilma, aparentemente contrariado pelo
endurecimento do Banco Central, insistia em que a alta de preços não
tinha propriamente causas monetárias, caracterizadas por volume
excessivo de moeda na economia que devesse ser tratada com aumento dos
juros, mas não passava de consequência de fatores sazonais ou de choques
de oferta produzidos fora do Brasil.
Afora isso, persistiu dentro do governo o antigo entendimento
proveniente de um keynesianismo mal assimilado, de que, em países
emergentes, não há crescimento possível sem seu preço em inflação.
Não foi o discurso do Banco Central, que vinha repetindo que sem
controle da inflação não há crescimento sustentável; foram as
manifestações de junho que convenceram o governo a combater mais
seriamente a escalada dos preços. Se nada fosse feito, a reação das
classes médias viria a galope e tirariam o chão do governo, como quase
aconteceu.
De lá para cá, embora tardiamente, algo mudou. A turma do cofre não
foi mais autorizada a praticar contorcionismos contábeis e o ministro da
Fazenda anunciou que as desonerações tributárias e as concessões de
subsídios temporários tinham acabado; e, depois de ter passado os dois
primeiros anos condenando a privatização de serviços públicos, o governo
intensificou as concessões. Ficou reconhecido que não basta ativar o
consumo; é preciso cuidar da oferta de bens e serviços e da modernização
da infraestrutura.
Mas o governo avançou apenas um pedaço do caminho. Graves distorções
mantêm a inflação muito próxima dos 6% ao ano. Uma dessas distorções,
comentada aqui dia 21, é o enorme desalinhamento entre preços
administrados (que dependem de autorização para reajustes) e preços
livres. Enquanto a inflação de 2013 acumulada até novembro chegou a
4,95%, a variação dos preços administrados não passou de 0,9%. Ou seja, o
governo continuou a represar preços à custa do caixa da Petrobrás, da
Eletrobrás e de outras instituições. Aparentemente, não tem outra saída
senão corrigi-los em ano eleitoral.
A disposição de conter as despesas públicas também ficou a meio
caminho. Falta uma política de estímulo à poupança e ao investimento e
as reformas urgentes também foram adiadas.
Essas são as razões pelas quais 2014 começa projetando os mesmos
resultados insatisfatórios dos dois anos anteriores; crescimento merreca
do PIB, inflação nas vizinhanças dos 6% ao ano e um rombo de 3% do PIB
nas contas externas (contas correntes).