Não que eu acredite muito nisto. Se aprendi algo ao longo dos anos, é
que eventos inesperados têm o péssimo hábito de ocorrer justamente
quando não se espera e cenários que parecem dados -como baixo
crescimento e alta inflação em 2014- podem tomar rumos surpreendentes.
Isto dito, para ser sincero, creio mesmo que este ano não será muito
diferente de 2013, mas o verdadeiro objeto do título não é exatamente o
desempenho concreto da economia, mas sim a percepção de que, apesar dos
problemas, são baixas as chances de mudança na política econômica, ao
menos até 2015.
Não há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os
desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa
da política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já
começaram, cautelosamente, a recuar de suas trincheiras.
A expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de
controles diretos de preços, o crescente deficit externo, somados ao
desempenho pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de
política é insustentável.
Há, a bem da verdade, exemplos de países que mantiveram (ou mantêm)
situações insustentáveis por períodos até bastante longos, alguns do
quais desconfortavelmente próximos, mas não há casos de economias que
tenham prosperado sob essas condições. Pelo contrário, há sempre um
momento em que a farsa se desfaz e a crise sobrevém.
Sabe-se, portanto, ser necessária uma mudança nos rumos de política
econômica para evitar que o país atinja um estado do qual não conseguirá
sair sem consequências dolorosas. É cada vez mais claro, em particular,
que o governo precisa encarar um considerável ajuste fiscal,
principalmente no que se refere às suas despesas.
Não se requer, contudo, nenhum conhecimento político mais profundo para
concluir que -tendo evitado fazê-lo sob condições eleitorais mais
favoráveis- não parece nada provável que o governo possa se engajar em
um esforço de austeridade às vésperas da eleição.
Ainda que Brasília acene timidamente com promessas de não piorar
adicionalmente seu já lamentável desempenho, os Estados, crescentemente
livres das amarras previamente impostas pela União, devem aumentar ainda
mais seus gastos.
Por outro lado, o Banco Central sinaliza com a interrupção do processo
de aperto monetário ainda no primeiro trimestre, mantendo a taxa de
juros em níveis que seus próprios modelos apontam ser incompatíveis com o
retorno da inflação à meta até ao menos o final de 2015.
É nesse aspecto preciso que o ano que hoje se inicia parece já ter
terminado. Os dados da política econômica estão lançados: o que irá
ocorrer em 2014, portanto, está determinado deste ponto de vista. O
ambiente externo e outros fenômenos imprevisíveis terminarão de dar
forma à economia neste ano, mas a contribuição do governo foi feita.
A dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo
governo se instalará (muito provavelmente, a continuação do atual) e
terá a oportunidade de promover os ajustes requeridos livre da camisa de
força eleitoral. Resta saber se a aproveitará.
Confesso meu pessimismo. No cenário político mais provável, isto é,
continuidade, a vitória nas eleições dificilmente poderia ser
interpretada como pedido de mudança -muito pelo contrário.
A menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis
no front externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país,
ameaçando o grau de investimento), a tendência, creio, seria a de
redobrar a aposta fracassada: piora fiscal, descaso com a inflação e
intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria
governar o pragmatismo.
E, aí sim, iremos testar os limites da sustentabilidade e atribuir nosso fracasso à "guerra psicológica".