O Estado de S.Paulo - 16/12
O
público decerto gostou do discurso que a presidente Dilma Rousseff
pronunciou na semana passada em Brasília, durante o Encontro Nacional da
Indústria. "Ouso dizer que em poucos momentos da nossa história o
desenvolvimento da indústria esteve tão no centro das preocupações do
governo", disse ela, ao enumerar as ações desenvolvidas por sua
administração para apoiar a atividade industrial. Linhas de crédito,
redução do custo de insumos (especialmente do principal deles, a energia
elétrica), incentivos tributários, parcerias público-privadas na área
de medicamentos e vacinas e até ações na área de infraestrutura foram
citados pela presidente como demonstrações da preocupação de seu governo
com a indústria nacional.
É possível que essa lista, à qual
podem ser acrescentadas outras iniciativas, de fato comprove a
prioridade da indústria nas políticas do governo. Continua muito
difícil, no entanto, aferir os resultados práticos desse conjunto de
medidas.
A produção industrial neste ano, até outubro, registrou
aumento de 1,6%, mas é uma variação insuficiente para compensar a
retração de 2,6% observada em 2012. Ou seja, ainda não se retornou aos
níveis de 2011. Com a redução do pessoal empregado, a produtividade
aumentou 2,6%, o que não é muito. Para que a eficiência produtiva
continue a aumentar sem gerar desemprego, os investimentos em inovação e
modernização terão de crescer mais depressa. Mas ainda não há
evidências de que isso esteja ocorrendo.
Nos dez primeiro meses
de 2013, o emprego industrial teve redução de 1% na comparação com o
período janeiro-outubro de 2012. Dos 18 segmentos industriais cujo nível
de ocupação é acompanhado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 10 registraram queda no número de trabalhadores
empregados em 2012 e continuaram a reduzir seu quadro de pessoal em
2013. Ao analisar os dados do IBGE, o Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial (Iedi) constatou que, nos setores
considerados tradicionais, como têxtil, vestuário, calçados e couro e
madeira, "a retração do emprego foi elevada em 2012 e continua alta em
2013".
É provável que a tendência de queda do emprego tenha se
mantido em novembro. Isso ocorreu em São Paulo, como constatou a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O nível de
emprego na indústria paulista em novembro caiu 1,69% na comparação com
novembro de 2012. É possível que o ano termine com o fechamento de 20
mil postos de trabalho na indústria paulista.
Do ponto de vista
do comércio exterior, o quadro é ainda mais desalentador para a
indústria brasileira. O Brasil exporta cada vez menos e importa cada vez
mais bens industrializados.
Dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, neste ano,
as exportações de produtos industrializados (manufaturados e
semimanufaturados) diminuíram 1,5% na comparação com 2012 (as vendas
caíram de US$ 113,7 bilhões, de janeiro a novembro de 2012, para US$ 112
bilhões, nos 11 primeiros meses de 2013).
Já as importações de
bens de capital, bens de consumo e combustíveis saltaram de US$ 92
bilhões para US$ 98,8 bilhões (aumento de 7,4%). Se forem computados os
bens intermediários (agrupados nas estatísticas do governo com as
matérias-primas), o aumento pode ter sido ainda maior. O avanço de
produtos fabricados na China e de outras procedências no mercado
brasileiro são o resultado mais visível da perda de espaço do produto
nacional.
Quanto à eficiência produtiva, um estudo divulgado na
quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) deixa claro
que, se avanços houve, foram modestos - e insuficientes para melhorar a
situação do Brasil na comparação com outros 14 países com presença
semelhante no mercado mundial ou com características econômico-sociais
comparáveis às nossas.
No conjunto de oito fatores considerados
como condicionantes da competitividade de um país, o Brasil ocupa o
terço final da lista (entre a 11.ª e a 15.ª posição) em cinco; nos
outros três, ocupa o terço intermediário (da 6.ª à 10.ª posição). Não
está entre os cinco melhores em nenhum quesito.
A posição
brasileira melhorou com relação ao custo da mão de obra, aos gastos
públicos com educação e ao ambiente macroeconômico. A classificação
brasileira não se alterou nos itens custo de capital, disponibilidade de
capital, infraestrutura de transportes e peso dos tributos. Mas piorou
nos itens disponibilidade de mão de obra, sistema financeiro,
infraestrutura de energia e telecomunicações e apoio governamental à
inovação e microeconomia, entre outros.
Não chega a ser
consolador o fato de o Brasil não ter piorado no item infraestrutura de
transportes, ao qual o governo vem dedicando atenção especial desde
agosto de 2012, com o programa de investimento em logística, que prevê
aplicações bilionárias em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. O
País ocupava a última posição nesse item no estudo feito em 2012 e não
saiu do lugar em 2013.
Onde melhorou, o Brasil melhorou pouco.
"Nossa velocidade não é suficiente", observou o diretor de Políticas e
Estratégia da CNI, José Augusto Coelho Fernandes. "Às vezes, ficamos
contentes com nossos avanços, mas não os comparamos com avanços mais
expressivos que nossos concorrentes vêm tendo."
O estudo da CNI
mostra que as ações enumeradas pela presidente da República para
demonstrar sua preocupação com a recuperação da indústria e a
restauração de seu papel de gerador de empregos e de produtor de
riquezas não têm sido suficientes para tornar o setor mais competitivo. É
preciso que essas ações sejam mais eficazes e não atrasem tanto como
têm atrasado.
Mas, mais do que isso, é preciso que o governo
volte suas atenções também para problemas que afetam fortemente a
atividade industrial, mas que não têm sido enfrentados com a intensidade
necessária. E é preciso que as ações do poder público sejam
articuladas, o que nem sempre tem ocorrido.