domingo, março 11, 2012

É a hora e a vez dos EUA - ALBERTO TAMER

O Estado de S.Paulo - 11/03/12


O Brasil tem um novo desafio a enfrentar no mercado mundial,
substituir em parte o mercado chinês que vem reduzindo as importações
até mesmo de commodities. O país deixou de ser o principal parceiro
comercial, este ano, cedendo espaço para os Estados Unidos, que haviam
se retraído para o segundo lugar. As exportações para a China, que
representavam 12,4% do total nos dois primeiros meses do ano passado,
recuaram agora para 10,5%.

Não é porque vai crescer menos, como prevê o governo, mas porque já
vinha importando menos do Brasil no fim do ano passado. E isso quando
o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 9,2%.

Os chineses não só estão diversificando fontes de fornecimento, como a
coluna já registrou, mas importando menos, o que, entre outros
motivos, afetou os preços das principais commodities, como o minério
de ferro exportado pelo Brasil. Nesse caso, o preço caiu de US$ 108 a
tonelada em dezembro do ano passado para US$ 96 em fevereiro.

É a vez dos EUA. Enquanto a representatividade da China na pauta das
exportações brasileiras recuou, a dos Estados Unidos aumentou este ano
de 10,5% para 13,6%. Sabemos que o mercado americano não pode
substituir inteiramente o chinês, pois importa menos matéria-prima,
mas pode evitar que o superávit da balança caia para menos de US$ 19
bilhões este ano e até vire déficit. É um superávit estratégico,
importante no momento em que o governo restringe a entrada de
investimentos externos que valorizam ainda mais o real.

A presidente Dilma Rousseff vai para os Estados Unidos em abril e,
certamente, este será um ponto alto de sua conversa com americano,
Barack Obama.

É hora de voltar a atenção para o mercado americano, o único que está
crescendo no G-7 (grupo dos países mais ricos do mundo). É mais
aberto, diversificado e, ao contrário da China, revela nítidos sinais
de que pretende dinamizar o comércio bilateral.

Já começou. Tudo indica que as empresas brasileiras e o governo estão
conscientes disso. Os números da balança comercial divulgados pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram
que, no bimestre janeiro-fevereiro, as exportações para os Estados
Unidos aumentaram 39,9% em relação a igual período do ano anterior, e
para a China, apenas 4,1%. Eles estão importando não apenas petróleo
ou minério, mas produtos de valor agregado.

A lista dos cinco principais importadores brasileiros, em fevereiro,
confirma a importância crescente do mercado americano: Estados Unidos
(US$ 2,264 bilhões); China (US$ 2,176 bilhões); Argentina (US$ 1,702
bilhão), Países Baixos (US$ 1,450 bilhão) e Alemanha (US$ 582
milhões.)

Registre-se a perda de representatividade da Europa, que deve se
acentuar com a recessão. É este o novo cenário no qual o governo
brasileiro e as empresas devem investir ainda mais.

EUA interessados. Para Gabriel Rico, presidente executivo da Câmara
Americana de Comércio (Amcham), que vem realizando um bom trabalho
para dinamizar o comércio bilateral, a viagem de Dilma não poderia ter
vindo num momento mais oportuno. Há grande espaço, coincidindo com a
intenção dos EUA de intensificar as relações bilaterais. Em fevereiro,
a balança comercial registrou superávit de US$ 1,7 bilhão, o melhor
resultado desde 2009. A previsão do governo é de que o comércio
bilateral deve crescer 3% este ano, e até mais, se a economia
americana continuar confirmando os bons resultados dos últimos meses.

Pode ser mais. A previsão do governo e do mercado é de que as
exportações para os Estados Unidos, este ano, devem crescer 3% e até
mais. E pode ser até mais se a economia americana continuar
confirmando os bons resultados dos últimos meses. Isso ganha especial
importância no momento em que a China, o segundo maior parceiro
comercial, busca commodities em outros mercados, derruba os preços, e
importa cada vez menos do Brasil. É certo que a China importa mais
commodities que os Estados Unidos, mas não seria a hora de reverter
essa dependência de matérias-primas cujos preços a China controla e
usa com grande eficiência na hora de negociar com o Brasil?