quinta-feira, dezembro 22, 2011

Caixa-preta - EDITORIAL FOLHA DE SP


Enquanto PT e PMDB digladiam-se pelo controle de postos importantes da Caixa Econômica Federal, começam a vir a público os efeitos nocivos da cultura de aparelhamento de órgãos estatais que se difundiu de forma inédita sob o governo petista -e não poupou aquela instituição financeira.
Já pairavam suspeitas sobre a decisão da Caixa de investir no banco PanAmericano quando era patente que a instituição enfrentava problemas. Agora, como esta Folha revelou no domingo, uma série de transações suspeitas poderá resultar em prejuízo de até R$ 1 bilhão para a União.
Uma corretora carioca vendeu papéis de alto risco e baixo valor por preços muito acima dos de mercado, graças a uma misteriosa pane no sistema da Caixa que deveria monitorar a transação. Como o governo é o garantidor dos títulos, poderá arcar com o prejuízo, caso os compradores recorram à Justiça para cobrir suas perdas.
O banco culpa uma empresa terceirizada de informática pela falha que retirou o sistema do ar no período em que se realizaram as operações -de setembro de 2008 a agosto de 2009. Já a corretora diz que não houve irregularidades.
As investigações ainda estão em curso, mas chama a atenção que um problema dessa magnitude tenha acontecido no quarto maior banco do país sem que fosse de pronto identificado.
A área onde ocorreu o negócio é da alçada do PMDB. A agremiação ocupa 3 das 11 vice-presidências da Caixa. Outras quatro são controladas pelo PT.
Os dois partidos nem mais se dão ao trabalho de indicar profissionais para os cargos com perfil técnico. Os próprios políticos vão assumindo essas posições. Derrotado na disputa do governo da Bahia, Geddel Vieira Lima (PMDB), por exemplo, tornou-se vice-presidente do setor de Pessoa Jurídica da Caixa; já o presidente do banco é o arquiteto petista Jorge Hereda.
É claro que há especialistas competentes na instituição, mas esse e outros episódios ressaltam a necessidade de impor regras ao preenchimento de postos públicos.
A privatização do Estado por interesses partidários precisa ser combatida. Ao menos em parte, os problemas se resolveriam com uma reforma que reduzisse de maneira significativa os mais de 20 mil cargos de confiança hoje existentes e fixasse critérios mínimos para a ocupação dos demais.