FOLHA DE SP - 08/11/11
SÃO PAULO - Animais vão conquistando mais e mais "direitos", como mostra oEquilíbrio de hoje e já fizera a Ilustríssima no domingo. Um dos responsáveis por isso é o filósofo Peter Singer, autor de "Animal Liberation", de 1975, que exerceu influência decisiva sobre os movimentos de libertação de "não humanos".
O problema das ideias de Singer é que, por serem sutis e controversas, acabam sendo consumidas na versão pasteurizada. Sua obra, porém, tem alcance muito maior.
Singer é um utilitarista radical. Isso significa que ele não acredita em direitos, apenas em interesses, como o de evitar a dor e buscar o prazer. O esquema vale para todo ser senciente. Discriminar um animal só porque ele não é humano configura um caso de "especismo", que o filósofo compara ao escravagismo.
Nem para Singer, porém, todos os seres vivos têm os mesmos "direitos". O nível de consideração que cabe a cada qual é função de sua capacidade de perceber dor e prazer, ou seja, de seu grau de consciência.
As implicações são radicais. Para o filósofo, a melhor forma de não provocar dor evitável é converter a humanidade ao vegetarianismo.
Ele também aceita aborto, eutanásia e infanticídio. Se o grau de "direitos" se liga ao nível de consciência, seres menos conscientes podem, em certas situações, ser sacrificados, seja para reduzir a dor, seja para produzir benefícios maiores. Outra tese polêmica é a de que todos os que já vivem com conforto devem doar parte de sua renda para eliminar a pobreza. O pressuposto das éticas utilitaristas é um igualitarismo forte.
É um pensamento estimulante. Meu receio é que exija demais das pessoas. Se os interesses de todos se equivalem, o filho de um desconhecido tem o mesmo valor que o meu e o mendigo com que cruzo na rua exige a mesma consideração que dispenso a meu melhor amigo. É uma lógica que deve ser exigida do Estado, mas que se torna pouco exequível quando aplicada a indivíduos.