- 23/07/2011 |
A presidente Dilma Rousseff está arriscada a chegar ao meio de seu mandato, no fim de 2012, com a inflação ainda fora de controle e um desajuste maior nas contas públicas. Serão essas as consequências, se ela for incapaz de resistir às pressões por maiores gastos e, ao mesmo tempo, faltar disposição para um ataque mais firme à alta de preços. Inflação acima de 4,5% em dezembro de 2012 é previsão corrente no mercado financeiro e em consultorias independentes. Quanto ao resultado fiscal, as projeções são cada vez mais pessimistas. Mesmo no governo há quem já se preocupe, embora discretamente, com a perspectiva de gastos inflados por maiores salários, aumento dos benefícios da Previdência e investimentos para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Mas o quadro poderá ser pior, se Brasília abrir os cofres para ajudar os aliados nas eleições municipais. O Tesouro gastará R$ 40 bilhões a mais com aumentos de salários e reestruturação de carreiras, se o Planalto ceder às pressões do funcionalismo. O Executivo resistirá, disse ao Estado o secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva. Mas as pressões devem tornar-se mais fortes. A Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal cobra do governo o cumprimento de promessas feitas em 2010, incluída a extensão do reajuste de 78% concedido no ano passado a cinco categorias de nível superior. Esse compromisso é uma das bombas de efeito retardado plantadas pelo governo Lula. O governo já admitiu expressamente a concessão de um aumento de 13% a 14% para o salário mínimo. Falta discutir detalhes, mas é certo que o impacto na Previdência deverá chegar a uns R$ 23 bilhões. Mais R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões serão acrescentados à conta, se houver aumento superior à inflação para as aposentadorias acima de um salário mínimo. A concessão está prevista numa das emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias, sujeita a veto. O governo terá de apressar os investimentos necessários à realização da Copa. Há atrasos na construção e na reforma de estádios, assim como nas obras de infraestrutura - estradas, vias de acesso aos locais dos jogos, melhoramentos urbanísticos e adaptação dos aeroportos à enorme demanda prevista para os próximos anos. O compromisso foi assumido em 2007, mas quase nada se fez até agora para criar a infraestrutura necessária aos jogos. A irresponsabilidade e a incompetência foram os principais entraves à realização desses investimentos. O cenário pouco mudou neste ano. De janeiro a abril a Infraero aplicou apenas 6,5% dos R$ 2,2 bilhões orçados para o ano. Outros programas de modernização do setor aéreo também continuam atrasados, com pagamentos inferiores a 40% das verbas autorizadas para 2011. A maior parte das obras de construção e adaptação de estádios também vai mal e uma das mais importantes, a de Itaquera, em São Paulo, ficou emperrada até agora por complexos acertos financeiros. Se algum dia for concretizado, o investimento no trem-bala também terá consideráveis efeitos fiscais, porque o governo tende a assumir responsabilidade crescente em relação a esse projeto. O governo mostraria sensatez se pusesse de lado esse plano, neste momento, para um reexame cuidadoso e sem pressa. Sem embarcar nesse projeto de trem de alta velocidade, o governo já terá dificuldades imensas para cumprir os compromissos em relação à Copa do Mundo e, ao mesmo tempo, realizar outros investimentos necessários ao crescimento econômico. Além disso, será preciso enfrentar as mudanças fiscais planejadas para tornar o produto nacional mais competitivo. Se o compromisso for sério, o governo deverá fugir da tentação de reduzir os encargos de um lado e aumentá-los de outro. A presidente Dilma Rousseff terá um papel inovador se puser no alto da agenda a competitividade. Para isso terá de mudar os padrões de administração. Por enquanto, sua pauta é uma colcha de retalhos, sem prioridades bem definidas e com muita hesitação diante dos problemas fiscais e da inflação. Se continuar hesitante, estará trabalhando pela candidatura de Lula em 2014. |