sábado, julho 23, 2011

Guerra de dossiês Eliane Cantanhêde

FOLHA DE SP - 22/07/11
BRASÍLIA - Quantos ministérios o PTB tem no governo? Nenhum.
E algum cacique ou parlamentar do partido anda triste pelos cantos, ameaçando romper? Não.
Tenham ou não ministérios, os petebistas são governo -e não pelos belos olhos de Dilma. Foram governo com Fernando Henrique, continuaram com Lula e não largaram o osso nem mesmo quando o chefão Roberto Jefferson detonou o mensalão e explodiu a aura do PT. Transporte-se (a alusão ao ministério em crise não foi por acaso...) a premissa para o PR e conclui-se que as ameaças dos "republicanos" depois da perda dos Transportes não passam de "chororô de derrotados", como Lula classificou a inglória resistência dos iranianos ao regime Ahmadinejad.
O PR, como o PTB, não sabe fazer política sem as benesses do poder. Ninguém imagina Valdemar Costa Neto e Lincoln Portela, por exemplo, engrossando o coro da oposição no primeiro ano de mandato, com um horizonte sorridente de verbas, favores e empregos, no mínimo pelos próximos três anos e meio. E as verbas, favores e empregos não são exclusivos dos Transportes e de Brasília. Ali só eram mais concentrados e mais fáceis.
Costa Neto é acusado de participar de reuniões nos Transportes. Além de não negar, ele provavelmente vai dizer que também participa na Saúde, na Educação, nas Cidades... Conhece bem os caminhos. E não vai perdê-los totalmente pelos percalços nos Transportes. Vão-se os Transportes, fica toda uma Esplanada dos Ministérios.
Há, porém, um outro tipo de risco para Dilma ao confrontar cobras criadas: em vez de agirem às claras na oposição, elas podem agir sorrateiramente numa guerra de dossiês. Se capotaram por denúncias nos Transportes, bem podem engarrafar o trânsito do PT. Além de, como Valdemar, conhecerem bem os caminhos, os "republicanos" sabem direitinho, como o petebista Jefferson, onde ficam os buracos.