domingo, junho 26, 2011

Paulo Renato sabia o que fazer na Educação e perseguiu seu sonho-Miriam Leitão


Dias antes de Paulo Renato assumir o Ministério da Educação eu pedi para conversar com ele, e marcamos um café da manhã. Ele chegou entusiasmado dizendo que estava cheio de planos. E começou a explicar.

Disse que primeiro faria um grande movimento nacional pela universalização de ensino. Achava absurdo que na última década do século XX o Brasil ainda não tinha universalizado o ensino fundamental. Imaginava uma campanha para por toda criança na escola. E foi isso que perseguiu obsessivamente.

Disse que o país precisava de mecanismos para avaliar a qualidade do ensino, calculando notas para as instituições de ensino e sua capacidade de transmitir informações. Ele de fato fez isso com o Enem e o Provão, sementes dos atuais sistemas de avaliação. Na verdade, ele conseguiu implantar no país o conceito de que a qualidade do ensino precisa ser avaliada.

Ele tinha também a ideia, como me explicou, de descentralizar certas verbas da educação.

-Como eu vou saber de Brasilia se uma diretora de escola no Maranhão deve ou não comprar um filtro de água. Imagino que uma parte da verba para esse tipo de despesa deva ser depositado nas contas das escolas diretamente para que eles decidam o que fazer.

Eu perguntei se isso não provocaria desvios. Ele disse que informaria à cidade que estava depositando o dinheiro e a própria comunidade fiscalizaria.

O que me impressionou naquela conversa foi ele ter um plano do que fazer em detalhes. Tinha tudo em detalhes. Ele sabia por que estava assumindo o Ministério da Educação. O que me impressionou nos anos seguintes foi que ele seguiu o plano que tinha em mente. Parece simples, mas já vi muito ministro tomando posse sem ter a menor ideia do que está fazendo no cargo. Deveria ser sempre assim quando se assume um ministério saber o motivo pelo qual se assume, mas não é.

Há quem faça pouco do que foi conseguido com o "Toda criança na escola", dizendo que a qualidade da educação não é boa no Brasl, de fato não é. Mas era absurdo, indecoroso, inaceitável não ter esse objetivo na educação brasileira. Com Paulo Renato o país deu esse passo decisivo, da universalização do ensino fundamental. Há muito a fazer, mas Paulo Renato honrou o cargo que exerceu e combateu o bom combate.