Folha de S Paulo
SÃO PAULO - Então candidato ao governo paulista, o atual ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, fez da crítica ao chamado sistema de "progressão continuada" de ensino uma obsessão. Insistiu de maneira monótona nesse samba de uma nota só. Até Dilma, num debate, pegou carona e esculachou o que petistas chamavam de "aprovação automática".
Os leigos, em geral nos alinhamos instintivamente com a crítica: "Como pode o aluno passar de ano sem aprender? Para que serve a escola?". As coisas, no entanto, são um pouco mais complicadas.
Na contramão do petismo de palanque, o MEC de Fernando Haddad chancelou há pouco a recomendação do Conselho Nacional de Educação para que as escolas de todo o país adotem o sistema de progressão continuada até a 3ª série do ensino fundamental.
Ao contrário do que parece, pesquisas indicam que a reprovação no início da vida escolar tem efeito deseducativo. O repetente, em geral, aprende menos que seus colegas mais novos. Separado da sua turma, com a autoestima destruída, o aluno tende a se retrair ou se rebelar. Há uma relação perversa entre repetência e evasão escolar.
Em 2009, cerca de 500 mil alunos (ou 5,1% de um total de 10 milhões) matriculados nos três primeiros anos do ciclo fundamental foram reprovados. É um índice altíssimo.
Ao mesmo tempo -para citar um entre tantos desastres da educação no país-, 20% dos alunos que concluem o ensino médio não sabem em matemática nem o que se espera de um estudante da 4ª série.
Não será, certamente, por meio da ampliação da repetência que vamos aprender a ler e a contar. Isso depende da capacitação dos docentes, do aprimoramento dos mecanismos de avaliação e controle de professores e alunos etc. etc.
Mercadante, no entanto, queria reprovar a progressão continuada. Agora que foi promovido a ministro, deveria tomar umas aulas de reforço com seu colega do MEC.