domingo, janeiro 23, 2011

É um rio de dólares:: Celso Ming

O Estado de S.Paulo - 23/01/11

Apenas nas três primeiras semanas do ano, as empresas brasileiras captaram no exterior US$ 10,3 bilhões. E mais operações desse tipo estão sendo engatilhadas.

O Ministério da Fazenda enfia um IOF de 6% e outras trancas para evitar a entrada de US$ 2 bilhões ou US$ 3 bilhões mensais de capitais interessados em morder a diferença de juros e, no entanto, até aplaude a entrada de capitais 3 a 5 vezes mais caudalosos que também produzem estragos no câmbio.

Isso é retirar um cisco do olho e deixar lá um cavaco inteiro. O ministro Mantega reconhece que a instituição do IOF não está sendo suficiente para segurar o dólar. Mas argumenta de forma duvidosa: se não fosse o IOF de 6% sobre a entrada de capitais destinados à renda fixa, diz ele, a cotação do dólar teria desabado ainda mais. Vá saber...

Pode-se argumentar o contrário. Se é especulativo, esse capital entra, tira proveito do que tem de tirar e logo vai embora. Nessa trajetória, o tanto de valorização do real que produz na entrada, desfaz logo depois, na saída. Enfim, não serão intervenções casuístas que evitarão a indesejada valorização do real.

Também não se pode impedir que as empresas brasileiras se abasteçam no mercado internacional de crédito. A hora é de aproveitar a enorme liquidez existente lá fora e a boa percepção que o credor tem sobre a economia do Brasil. A Petrobrás não acaba de puxar para dentro US$ 20 bilhões obtidos com a subscrição de ações novas? Pois isso é uma canequinha comparada com os US$ 220 bilhões de que necessitará até 2014 para desenvolver os projetos do pré-sal. De muito mais precisarão para tocar seus investimentos e reforçar seu capital de giro não só a Petrobrás, mas grande parte das 100 maiores empresas brasileiras.

A pletora de capitais demandada pelo setor produtivo brasileiro é impressionante. Há o pré-sal já mencionado e tudo o que vem com ele, em produção de sondas, navios, oleodutos, etc. Tem os projetos da Copa do Mundo, da Olimpíada, o trem-bala, as hidrelétricas, o resto do PAC. O afluxo de capitais tende a ser gigantesco. Não dá para conter a avalanche com rodo e pano de chão do ministro Mantega.

A enorme diferença entre os juros internos e externos é mesmo um problema. Não só pela forte entrada de capitais que proporciona, mas também pela enormidade que segura no País. Está claro que é preciso derrubar corajosamente os juros. Mas, para isso, é preciso que o ministro leve a sério o roteiro que ele mesmo traçou no início de janeiro: "É garantir austeridade nas contas públicas para abrir espaço para a queda dos juros". Por enquanto, além da retórica, nada aconteceu.

Apenas a derrubada dos juros não será suficiente para conter o afluxo de moeda estrangeira, especialmente se o governo está dividido entre estimular sua entrada e, ao mesmo tempo, restringi-la. O Brasil vai escalar as tabelas de classificação de risco e, à medida que crescer no mundo a percepção de que é uma economia com enormes perspectivas, mais capitais afluirão para cá.

Para assegurar competitividade para o produto brasileiro numa paisagem nítida de valorização do real, sobra para o governo Dilma ação vigorosa destinada a baixar o custo Brasil. O roteiro é conhecido: além da derrubada dos juros, vai ser preciso reduzir a carga tributária, construir uma infraestrutura confiável, dar eficiência ao Judiciário e fazer as reformas que há anos estão paradas.

Cadê a oposição?
Até agora ninguém conseguiu ouvir contestação às políticas praticadas pelo governo. A oposição não atua e não tem discurso, provavelmente também porque não tem opinião formada sobre nada. As únicas cascas de banana que aparecem no caminho de Dilma estão sendo atiradas pela sua própria base política.