FOLHA DE SÃO PAULO - 20/08/10
BRASÍLIA - Quanto mais Dilma cresce e se aproxima da vitória no primeiro turno, mais dúvidas surgem sobre seu eventual governo.
Sabe-se muito sobre Serra -o que ele fez e o que não fez, o que ele diz e o que de fato pensa, as qualidades de homem público e as idiossincrasias pessoais, seus amigos e seus desafetos. E de Dilma? Sabe-se muito pouco de Dilma Rousseff.
Ela virou a ministra-forte e evoluiu para ser candidata do PT por instinto e capricho de Lula. Rejuvenesceu, coloriu os cabelos, maquiou o rosto, trocou o guarda-roupa. Foi treinada, enfrentou bem entrevistas ao vivo e debates. Mas o que está por baixo de tudo isso?
Cabe perguntar o que vem por aí caso Dilma seja a primeira mulher a subir a rampa do Planalto, com o PT encastelado na máquina, no BB, na CEF, na Petrobras, no BNDES; o PMDB de Sarney, Jader, Renan; o vice Michel Temer, pronto para tudo; a fila, do PCdoB ao PR.
Dilma protagonizou histórias constrangedoras de gritos e destratos a ministros, assessores e presidentes de estatais. Tampouco é popular na arraia-miúda do Planalto. Há controvérsias se um temperamento assim, dissimulado pelos sorrisos de campanha, será suficiente ou, ao contrário, adequado para equilibrar a autoridade da presidenta e a ganância dos "aliados".
Uma das especialidades de Lula é driblar o próprio time e, quando vem gol contra, ele "não sabia, nunca ouviu falar". Dilma seguiu o script nos casos da Receita, do "banco de dados" da Casa Civil contra FHC, do dossiê da sua campanha contra Serra, da quebra de sigilo de dirigente do PSDB. Mas, como chefe suprema, vai colar, como sempre colaram todas as versões de Lula para tudo?
Por fim, quem vai ser presidente? Ela ou Lula? Sem respostas, não dá para apostar como será Dilma ao trocar o personagem de candidata pelo de "mãe dos brasileiros". Simplesmente porque não se sabe quem é a própria Dilma.