sexta-feira, junho 25, 2010

MERVAL PEREIRA Perdendo terreno



O Globo - 25/06/2010

O resultado mais negativo para a campanha oposicionista na pesquisa do Ibope foi a reviravolta na Região Sudeste, que corresponde a mais de 40% dos eleitores brasileiros, com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.

Se a candidata governista está vencendo inclusive na região do país onde se concentra a grande força política da oposição, pois domina os governos dos dois maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas, aí a situação estará mesmo periclitante para a candidatura tucana.

Na última pesquisa do Ibope, que dera empate de 37%, José Serra vencia Dilma no Sudeste por 41% a 33%, e nesta última a candidata oficial conseguiu ficar à frente, revertendo a situação para um empate técnico de 37% a 36%.

Isso significa que o ex-governador paulista José Serra não está conseguindo tirar de seu estado uma diferença de votos capaz de equilibrar a situação de desvantagem em Minas e Rio de Janeiro.

E também que o ex-governador Aécio Neves ainda não conseguiu reverter a vantagem que o presidente Lula vem tendo em Minas, onde venceu as duas últimas eleições presidenciais — apesar da força eleitoral de Aécio no estado — por uma diferença de um milhão de votos.

Para se ter uma ideia do que isso significa para os tucanos, na eleição de 2006 o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, mesmo perdendo no primeiro turno para Lula, venceu-o na Região Sudeste por cerca de 600 mil votos, de 45,2% a 43,3%.

Essa vitória ele conseguiu superando Lula em São Paulo por 3,8 milhões de votos, já que perdeu nos outros estados do Sudeste.

A única vez em que Lula venceu na Região Sudeste foi em 2002, e por uma diferença exuberante: 46,5% a 22,7%.

Ganhou por larga margem em Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo e também em São Paulo, com uma diferença de cerca de 3,5 milhões de votos sobre Serra.

O plano de José Serra era sair de São Paulo com 5 a 6 milhões de votos de diferença para Dilma, coisa que não está acontecendo.

A pesquisa nacional que as direções do DEM e do PSDB têm, feita pelo Instituto GPP, dá uma vitória a Serra de 4 pontos percentuais, e a diferença está justamente no Sudeste, onde o tucano vence por 37% a 31%.

É previsível que, a partir dos números ruins da pesquisa do Ibope, o comando da campanha tucana vá concentrar sua atuação nas regiões onde poderia garantir uma boa vantagem, o Sul e o Sudeste.

Mas o impacto da pesquisa é inevitável, e pode desmanchar em poucos dias os arranjos que estavam sendo amarrados em estados chaves como os do Sul.

O PP, que a partir das regionais sulistas conseguira manter a neutralidade mesmo com a maioria disposta a apoiar a candidatura de Dilma Rousseff, já se inclina para um “apoio político informal”, com o presidente do partido, senador Francisco Dornelles, que um dia já esteve com um pé no posto de vice de Serra, se comprometendo a trabalhar para a candidata oficial.

A subida de Dilma pode também estimular a decisão do senador Osmar Dias pelo bloco governista, a não ser que o senador Álvaro Dias, seu irmão, seja o escolhido para formar a chapa puro sangue do PSDB com Serra.

É bobagem de militante considerar que a fatura está liquidada, mas é bom os tucanos se convencerem de que está ficando cada vez mais difícil o que consideravam “uma barbada”.

O fato é que Lula, surpreendentemente, está conseguindo transferir sua popularidade para Dilma, coisa em que a maioria da direção tucana não acreditava, pelo menos nesse volume todo.

É verdade que a propaganda eleitoral vai dar chance ao PSDB de tentar desconstruir a candidata Dilma, mas é um passo perigoso, por que toda crítica ao governo passa a ser vista como antipatriótica, e no caso de uma mulher, é mais delicado ainda.

Mas há sempre a possibilidade de um erro do adversário, como no caso dos aloprados em 2006 que impediu que Lula vencesse no primeiro turno e alavancou a votação de Alckmin, fenômeno não captado pelas pesquisas de opinião na ocasião.

O problema da candidatura de Serra é que cada vez mais suas chances estão num erro do adversário, e cada vez menos na sua campanha propriamente dita.

O PT também conta com os erros de Serra, como sua irritabilidade e seus comentários sobre temas polêmicos, como a necessidade de controlar o Banco Central, que são explorados como sinais de perigo para a estabilidade econômica do país.

Ele alega que as perguntas geralmente são feitas ou de maneira maliciosa ou superficialmente, o que o impede de explicar direito suas idéias a respeito de temas tão complexos e delicados.

Esse, na verdade, é um dos problemas de Serra.

Quase todas as questões que podem ser criticadas no governo Lula são muito técnicas e não se prestam a uma campanha eleitoral onde o emocional vale mais do que o racional.

Assim é que, quando Serra tenta analisar o crescimento econômico do país nos últimos anos, ponderando que ele não é tão fabuloso como vende o governo, corre o risco de ser acusado pela adversária de ser “contra o país”.

A candidata Dilma Rousseff terá uma propaganda eleitoral com mais tempo na televisão e tão competente ou mais tecnologicamente falando do que a da oposição.

E, sobretudo, estará protegida de possíveis erros que ainda surgem quando se apresenta sem quem cuide de sua imagem ou edite suas frases truncadas.

O que parecia ser uma oportunidade para as críticas da oposição está sendo muito bem controlado pelo comando da equipe da candidatura oficial.

É inegável que o processo de reconstrução por que passa Dilma, tanto física quanto na parte de contato com o público (o chamado mídia training), está tendo bons resultados, reduzindo as chances de um tropeço que possa ser fatal à candidatura.