O Estado de S.Paulo - 24/04/10
O parecer da Procuradoria-Geral da República recomendando ao Tribunal Superior Eleitoral a aplicação de "multa máxima" ao Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo por considerar a greve de março "propaganda eleitoral antecipada negativa" contra o pré-candidato a Presidência da República pelo PSDB, José Serra, surpreendeu.
Pelo ineditismo. Nunca a liderança de um movimento grevista havia assumido seu caráter político-eleitoral de maneira tão explícita, tampouco o Ministério Público tivera de tomar esse tipo de decisão.
O governo federal deve ter se surpreendido também. Houvesse avaliado a potencial gravidade do fato, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência da República, talvez não tivesse sido enfática na defesa do direito da direção da Apeoesp de paralisar as atividades do professorado para tentar "quebrar a espinha" do então governador de São Paulo às vésperas de deixar o posto.
Pois foi a esse ponto que a procuradoria se apegou. O movimento não contestou a administração estadual, "mas a suposta inaptidão de José Serra para ocupar o cargo de presidente".
Atenda ou não o TSE ao pedido, o que se tem posto na mesa é o rigor do Ministério Público.
Se acrescentarmos as duas multas já aplicadas pela Justiça Eleitoral ao presidente Luiz Inácio da Silva por propaganda eleitoral antecipada, teremos uma evidência de predisposição ao balizamento de condutas.
Avançando no raciocínio, isso pode significar que o governo talvez precise adaptar o modelo de campanha previamente desenhado.
O périplo da Presidência e ministros já sofreu adaptação depois das decisões do TSE. Houve recomendação para cuidado extremo com a lei.
Agora, com esse parecer sobre a greve da Apeoesp, movimentos sociais, sindicatos, organizações não-governamentais e todo o arsenal de entidades que de alguma maneira estavam prontas para representar o "nós" na guerra contra "eles" provavelmente necessite de uma reavaliação metodológica.
Não que se recolham e não se manifestem. Apenas que o façam dentro dos marcos legais. Pois o presidente Lula não é mais o protagonista, produtor e diretor do espetáculo. Há contraditório e a Justiça entrou em cena.
Cabeça no pé. A entrevista do deputado Ciro Gomes ao portal iG, dizendo que Lula "navega na maionese" se pensa que poderá ungir Dilma Rousseff presidente, virou a política de cabeça para baixo.
De litigantes juramentados, tucanos portaram-se como afeiçoados. Já os correligionários PT e PSB reagiram como se antagonistas de Ciro fossem desde a infância.
Mundo artístico. Atores, cantores, compositores costumavam ser atuantes na política. Houve embates inesquecíveis, alguns com vítimas. Até a campanha de 2002 os artistas participavam ativamente.
Na eleição de 2006, já à sombra do mensalão, a maioria se preservou e quem veio a público não fez bonito defendendo a tese das "mãos sujas" no afã de justificar o alinhamento ao PT o que, de resto, poderia ter sido feito com argumentos mais decentes.
Mas o enunciado é só para dizer que nessa campanha chega da área a primeira contribuição ao debate político.
Vem do músico Guttemberg Guarabyra ("Sá, Rodrix e Guarabyra"), que discorre sobre a popularidade do presidente Lula e a dianteira da oposição nas pesquisas.
"O que especialistas em análise de pesquisas ainda não observaram é que, como o governo Lula em larga medida está mais para um governo de continuidade, já que abandonou quase totalmente as antigas bandeiras do petismo para adotar uma configuração mais tucana, o eleitor do PSDB não tem como dizer que não aprova a atual maneira de Lula atuar."
"É o que explica a aparente contradição de metade dos eleitores que aprova o governo manifestar preferência eleitoral pela oposição. Ou seja, esses eleitores não deixaram de ser opositores. Apenas acham que a situação está governando de acordo com seus valores, mas vão votar em conformidade com os ideais em que sempre votaram."