FOLHA DE SÃO PAULO - 21/02/10
Quem diz ter horror às revistas de fofocas é seu mais fiel leitor, e desconfie das que dizem "jamais me venderia"
AS APARÊNCIAS enganam - já ouviu falar? Muitas vezes as pessoas aparentam ser exatamente o contrário do que são na realidade, e todo mundo acredita.
A que parece mais animada, alegre e divertida talvez seja tímida, até mesmo solitária, por isso finge ser o oposto do que é. Complicado? Pois o mundo é assim mesmo: cheio de complicação.
Num grupo de homens, o mais boêmio e farrista pode surpreender. Quando se casa, esse quase, digamos, devasso, se transforma num marido conservador -"mulher minha não usa biquíni" -e num pai repressor, daqueles que permitem (médio) que a filha durma com o namorado, contanto que ele não veja. Moral da história: nem um único som pode ser emitido, e o velho discurso continua: "filha minha", etc. e tal. Pai é pai.
Os políticos, esses, já se sabe: tudo o que dizem é exatamente o oposto do que estão pensando. Basta ouvir o "não sou candidato" para se ter a certeza de que é candidatíssimo.
Quando um deles anuncia que está deixando a vida pública, a campanha já está na rua; se uma autoridade afirma que a taxa de juros não vai subir, é hora de mexer no investimento; quem jura pela mulher e pelos filhos que não violou o painel do Senado acaba confessando que violou, sim, pedindo perdão a Deus e sobretudo aos eleitores. Já disse um sábio: "Palavras foram inventadas para esconder os pensamentos".
Há quem acredite que milionário é o que tem carro importado, pede champanhe nos restaurantes e convida para um fim de semana em Angra: grande engano.
Esses querem impressionar, para fazer bons negócios. Os ricos de verdade -menos Eike Batista- são incapazes de usar uma etiqueta da moda, os ternos são velhos, o carro, sempre preto, nunca é do ano, e não frequentam nenhum lugar da moda. Para que querem ganhar ainda mais dinheiro? Boa pergunta.
Quem diz ter horror às revistas de fofocas é seu mais fiel leitor, e desconfie das que enchem a boca com um "jamais me venderia". Faça um teste, pergunte se por um milhão de dólares etc. Vai ficar espantado com a resposta de quase todas: "Bom, se for só uma vez, não vai tirar pedaço". As ex-prostitutas zelam mais pela moral da sociedade como um todo do que as mais carolas, e não existe mulher mais fiel do que uma prostituta, vai entender.
É tudo sempre ao contrário, e quem já teve acesso a informações privilegiadas sobre a vida sexual dos moralistas sabe do que estou falando. Quando, em uma festa, entrar a rainha de uma bateria qualquer, rebolando, não se preocupe: elas só querem saber do samba e das fotos. Mas se houver uma mulher de vestidinho preto, sem decote, e com cara de distraída, daquelas que até olham para o chão quando é muito olhada, cuidado; é aí que mora o perigo, porque quando ela resolve encarar, não tem pra mais ninguém.
Pense nas falsas juras de amor eterno que você já ouviu, e não se amargure. Pense também nas que você já fez, e por nada, só porque fazia calor, a cerveja estava gelada, a noite bonita, e você morrendo de vontade de ser feliz, nem que fosse só por umas horas. Mesmo tendo sido tudo mentira, seja sincera: não foi bom? E a vida não é isso?