Os grandes bancos internacionais não são os únicos responsáveis pelas lambanças financeiras dos últimos três anos, mas estão entre os principais e precisam de rédea curta, especialmente porque continuam aprontando.
Durante e depois da crise, não agiram como instituições que precisaram de socorro oficial. Em muitas de suas negociações com as autoridades, descambaram para a chantagem, muito próximo das práticas terroristas: "Ou vocês nos salvam ou quebramos e explodiremos todos."
Encharcados de verbas públicas a custo zero, os grandes bancos dos Estados Unidos e da Europa foram as primeiras e quase as únicas instituições a se recuperarem e a apresentarem resultados invejáveis enquanto o resto da economia permanece sufocada na recessão e no desemprego.
Operaram graças a abundantes injeções de vitaminas públicas e, no entanto, seus dirigentes continuaram a receber cerca de US$ 150 bilhões por ano em recompensas por bom desempenho, que os líderes políticos chamam de "bônus indecentes".
Os bancos precisam de enquadramento. Mas o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, passou a tratá-los com medidas de qualidade discutível.
O governo americano parece interessado em fatiar os grandes bancos. Depois de anos patrocinando fusões e incorporações de bancos problemáticos por bancos maiores, o presidente Obama passou a falar em reduzir as proporções dessas grandes instituições. Com que objetivo? Aparentemente para destruir o princípio suicida conhecido como "grande demais para falir (too big to fail)".
Qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que o tamanho não tem nada a ver com a capacidade de um banco de provocar crise sistêmica. O Northern Rock, o primeiro a ser salvo na Inglaterra, é um banco insignificante e, a rigor, nem banco era; não passava de instituição de crédito imobiliário. O Lehman Brothers, que provocou o pânico global, era apenas o quinto maior banco de investimento. Nem banco comercial era. Assim, fica para ser avaliado se é possível que um banco tenha a necessária densidade e algum futuro na economia global se não for um bancão.
Aparentemente, o presidente Obama parece propenso a restaurar uma velha aspiração americana de que as atividades dos bancos devem se restringir a mercados locais, como até recentemente era a ordem vigente nos Estados Unidos. Isso, por sua vez, tem a ver com outra postura do governo americano, de vetar qualquer projeto que pretenda internacionalizar também as instituições de fiscalização e supervisão da rede bancária.
O mercado financeiro funciona como organismo integrado. Fundos de pensão, fundos de hedge e fundos de investimento contêm ativos do mundo inteiro. Não é possível continuar olhando e operando pequeno, como parece pretender o presidente Obama.
Todo o esforço de regulação do sistema financeiro passa pelo cumprimento da exigência técnica de capital próprio proporcional ao volume de ativos e pela institucionalização de suficiente reserva de liquidez. São procedimentos que exigem uniformização em todo o mundo. Não podem ficar limitadas a conveniências locais e a interesses políticos imediatos do presidente dos Estados Unidos.