"Os brasileiros entram em 2009 com incerteza e apreensão, desconhecendo o que os espera, qual a real extensão dos estragos da crise, quanto tempo ela vai durar e com dúvidas quanto ao futuro. Haverá chances de voltar à prosperidade de 2008? (...) na onda do otimismo pré-crise um capítulo à parte para a Bovespa, que iniciou 2008 com 60 mil pontos, disparou a 73 mil em maio e acabou o ano murcha em 36 mil pontos" - assim se iniciava o último texto do ano de 2008 publicado neste espaço.
As dúvidas se dissiparam, a economia brasileira se recuperou antes do que se imaginava e previa, a incerteza foi superada e hoje o futuro em 2010 é previsível. Se no começo de 2009 a economia privada apostava numa queda entre 1,5% e 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e o governo, num crescimento de 2,5%, hoje a realidade mostra que os dois estavam errados: o número final do PIB em 2009 tende a apontar um leve recuo, o que os economistas chamam de crescimento zero.
Literalmente nocauteada no primeiro momento da crise, a Bovespa saiu do fundo do poço, dobrou de valor e hoje oscila entre 66 mil e 69 mil pontos. Para ela convergiram capitais externos em busca de lucro rápido e já há quem alerte para o risco de formação de uma bolha. As empresas preferem não acreditar e nela apostam programando lançamento de ações.
O Brasil se recuperou bem, mas outros países se saíram melhor. China, Índia e alguns asiáticos nem sequer foram arranhados pela crise e continuaram crescendo o ano inteiro. Por aqui ela chegou forte, foi enfraquecendo, mas ainda não conseguiu recuperar a melhor marca da geração de empregos de 2008.
Apesar das incertezas políticas e do excesso de gastos dos governos em épocas de eleição, é certa a expansão da economia em 2010, um tanto em razão da baixa base de comparação com 2009 e muito pelo ritmo da produção, em franca ascensão, sobretudo da indústria, que na crise demorou mais a se recuperar. E as pesquisas sobre intenções de investimento ajudam, são animadoras. As previsões de crescimento do PIB refletem esse clima de otimismo: elas variam entre 4% e 6,5%, a Fiesp aposta em 6,2% e o governo, em 5,5%.
O fator eleição, que sempre funcionou como gerador de incertezas e de especulações no mercado financeiro, em 2010 não deve atrapalhar, como aconteceu em 2002. Hoje nenhum dos candidatos à Presidência representa o risco de ruptura à estabilidade econômica que Lula representava em 2002. Não há razões, portanto, para ataques contra o real e para a situação de desordem econômica que abalou o Brasil em 2002.
Ajudaria muito uma transição política civilizada e serena se na campanha eleitoral, ou mesmo antes dela, Lula anunciasse a disposição de nomear uma equipe para passar a gestão do governo ao novo presidente a ser eleito. Como fez FHC. Esse gesto ajudaria a frear tentativas de especulação no setor financeiro.
Se o risco eleitoral é controlado, o risco de um crescimento abaixo do potencial do País não está descartado. Ele é gerado pelo próprio governo, ao recusar avanços à estabilidade da economia, gastando mais do que pode, comprometendo a receita tributária com despesas engessadas (que não podem ser removidas) e, pior, levando-as a crescer nos próximos anos, invadindo o mandato do próximo presidente. O aumento salarial do funcionalismo, o inchaço da máquina pública com apadrinhados, cruzar os braços para a expansão do déficit da Previdência (pública e privada) e gastar em obras eleitoreiras de eficácia e qualidade duvidosas para atrair votos para os candidatos do PT - é isso que compromete a estabilidade da economia.
Os números comprovam: aumentos salariais e novas contratações elevaram a folha de pagamento do governo federal de 4,8% do PIB, em 2002, para 5,1%, este ano. No Poder Judiciário, por exemplo, o salário médio dos funcionários, do motorista ao ministro do Supremo Tribunal Federal, ultrapassa R$ 5 mil - muito acima de todo o resto dos trabalhadores privados do País, o que faz de Brasília a cidade brasileira de maior renda per capita.
A expansão da dívida pública é outro freio ao crescimento. Com o pretexto de reagir contra a crise o governo decidiu reduzir o superávit primário de 2009 e 2010, o que fez sua dívida crescer em vez de reduzir, como tem sistematicamente prometido o Ministério da Fazenda. Em 2009 o ministro Guido Mantega prometeu encerrar o ano com redução no endividamento, mas a dívida líquida cresceu de 38,8% do PIB para 44%. E a situação piora quando é usado o indicador da dívida bruta, que saltou de 53,1% para 67% do PIB ao longo do governo Lula, e já soma quase R$ 2 trilhões.
Agravado pelo limitado poder de interferência do governo, porque depende do desempenho da economia mundial - e os países ricos continuam mal -, o déficit externo de transações correntes é o grande problema a ser enfrentado em 2010. Bancos, agentes financeiros e o próprio Banco Central elevaram suas previsões para esse indicador. Com exportações em queda, o déficit deve saltar de US$ 23 bilhões, em 2009, para US$ 56 bilhões, em 2010, aumentando de 1,4% para 3,2% do PIB. "Um déficit superior a 1,5% do PIB não é nada saudável", reconhece o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
Mas, se este ano a economia começou mal e terminou bem, a política começou ruim e terminou péssima.
O retrocesso político-institucional que começou com casos de corrupção - Waldomiro Diniz, o mensalão do PT, os vampiros, aloprados e outras aventuras, o loteamento político-partidário de cargos técnicos - foi reforçado em 2009 com as contas secretas do Senado, os negócios suspeitos da família Sarney, o mensalão do DEM em Brasília. Até a União Nacional dos Estudantes (UNE) desviou dinheiro público para empresa fantasma em Salvador. E pior: tudo com a bênção e o estímulo do presidente Lula, que, em vez de condenar e combater corruptos, os defende. Mas o máximo desse retrocesso político, em 2009, foi a ressurreição da censura à imprensa, que o País imaginava estar morta e enterrada junto com a ditadura militar.
Um próspero 2010 a todos!