sábado, fevereiro 28, 2009

Frost/Nixon, com Frank Langella

O RATO QUE CAÇOU O GATO

Dois atores fabulosos recriam o enfrentamento
entre David Frost, um frívolo apresentador de TV,
e o ex-presidente caído em desgraça Richard Nixon


Isabela Boscov

Fotos divulgação
ADVERSÁRIOS IMPROVÁVEIS
Sheen (à esq.), como Frost, e Langella, como Nixon: para surpresa geral, foi para o zé-ninguém que o ex-presidente admitiu seus crimes

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Em 1974, o presidente Richard Nixon renunciou ao mandato em meio ao mais lamacento escândalo da política americana: seu envolvimento direto na espionagem das atividades internas do seu adversário, o Partido Democrata. O caso Watergate, como ficou conhecido, até hoje vem à baila quando uma tramoia governamental é descoberta. E o nome de Nixon ficou também ele arrasado, pelas razões que o levaram à renúncia e pela arrogância que demonstrou nesse momento traumático: desistiu do cargo apenas para evitar o impeachment, não se explicou e não se desculpou. Um homem de grande complexidade – e de muitos complexos –, Nixon já foi objeto de inúmeras dissecções acadêmicas e ficcionais. Uma das tentativas mais instigantes de jogar luz sobre ele partiu do dramaturgo inglês Peter Morgan, que recriou, em forma de teatro, um episódio notório. Em 1977, Nixon concordou em gravar uma série de entrevistas com o inglês David Frost, que não era jornalista nem leitor assíduo de jornais, e sim apresentador de programas de variedades. Para surpresa geral, Nixon terminou dizendo a Frost o que nunca admitira antes: que sua conduta fora ilegal. E fez um relutante, mas inesperado, pedido de desculpas. A história desse enfrentamento é o que narra Frost/Nixon (Estados Unidos/ Inglaterra, 2008), que estreia nesta sexta-feira no país.

Adaptado pelo próprio Morgan – roteirista também de A Rainha – e dirigido por Ron Howard, o filme tem um trunfo incalculável em seu favor: a dupla formada por Michael Sheen (o Tony Blair de A Rainha) e pelo veterano Frank Langella, que já interpretara os mesmos papéis no palco. O trabalho de Langella, que concorreu ao Oscar, é exemplar. Em vez de se apoiar nos traços físicos de Nixon, como o célebre nariz de pista de esqui, ele crava o ressentimento, o senso de que fora injustiçado e a prepotência que davam ao presidente seu ar escorregadio e sinistro. Sheen não fica atrás, e tem uma tarefa talvez até mais desafiadora: a de mostrar as correntes subterrâneas de um homem que fazia questão de ser superficial. Ron Howard, como já ficou amplamente demonstrado em filmes como Apollo 13 e Uma Mente Brilhante, é um diretor avesso a conflitos e dado a arredondar arestas. Tudo o que ele tira em adrenalina de Frost/Nixon, porém, seus atores contrabandeiam de volta para suas cenas. E com sobra.

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