sexta-feira, dezembro 26, 2008

O bom humor natalino do presidente Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL

O temperamento do presidente Lula andou oscilando nos últimos dias entre a ansiedade com a crise de financiamento do mundo, as inundações que batem recorde em número de vítimas e áreas atingidas e o bom humor da temporada natalina.

Carimbou um dos seus mais transparentes momentos de lucidez no café da manhã com os jornalistas em mesa talhada para reunião do megaministério de 38 titulares entre ministros e secretários.

Como era inevitável o tema da sua sucessão, Lula deu voltas no trapézio para driblar a evidência do lançamento, por sua iniciativa em lance de risco, da candidatura da ministra Dilma Rousseff. Ora, no rol das obviedades, a primeira trava previne o choque do imprevisto no desdobramento da bagunça da economia que dá volta ao mundo. As bravatas para tentar espantar o abantesma foram sendo recolhidas à medida que as economias poderosas entravam em colapso e a comparação com a marolinha se desmanchava na praia.

O presidente cultiva a sua esperança. Sem ela, como saco vazio, não ficaria de pé. Mas engatou uma segunda, à espera do resultado dos testes. Creio que seria dispensável a afirmação, que provocou o riso dos repórteres, de que nunca conversou com a ministra Dilma sobre a sua candidatura. Mas como, presidente? Pois, se por sua iniciativa a candidatura da ministra foi levantada em reunião do Diretório Nacional do PT, que é hoje uma legenda que parece papagaio sem rabo, com o recuo tático dos poucos que ainda cultivam a mal- me-quer nos terrenos baldios. Os três ou quatro aspirantes murcharam como as ditas flores em jarra seca.

A entrega da gerência do Programa de Aceleração do Crescimento – o PAC da sigla que é o carro-chefe do governo – para a arrancada no novo ano da pré-campanha é a mais comovedora demonstração de apoio no único projeto oficial de candidatura.

O mais nítido flagrante panorâmico da campanha mostra o elenco da novela perdido no enredo sem pé nem cabeça. O PMDB transformou-se na hiena que se péla carne e a carniça que o governo distribui na aquisição de apoio parlamentar. O partido se farta com a presidência da Câmara, assegurada para o seu presidente, deputado Michel Temer. E renuncia a disputar a Presidência da República, mesmo diante do quadro favorável do infortúnio do PT e das dúvidas presidenciais.

A oposição – PSDB e DEM – tem à disposição a dupla favorita nas pesquisas, composta pelos governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, e não apenas não dispõe do líder capaz de articular uma da dezena de fórmulas para montar a chapa, como perde o rumo de casa e bate com a cabeça na parede com as propostas ridículas como a prévia partidária – receita fatal do racha – quando a experiência ensina que, na impossibilidade de acerto, a saída pela janela é deixar que a Convenção decidida na briga e no voto.

Lula tem tempo e condições de virar o jogo. Dispõe de um ano inteiro para tocar as obras que se arrastam, marcar presença em todas as áreas devastadas pelas enchentes, que chegaram a Minas, ao estado do Rio, além de Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul. E, pelo que as imagens mostraram, as obras de irrigação de parte do Nordeste, com as águas do Rio São Francisco, estão caminhando com a dedicação e competência das equipes especializadas do Exército.

O anjo-da-guarda de Lula é competente.