sexta-feira, dezembro 26, 2008
NO DEVIDO LUGAR EDITORIAL O GLOBO
26/12/2008
O Estado foi, é e possivelmente sempre será, isoladamente, o maior agente econômico, até mesmo nos países mais liberais do planeta. Há muitas razões para isso, e talvez a principal seja a necessidade que os seres humanos têm, quando organizados em sociedade, de criar regras de convivência de interesse coletivo. Por delegação da própria sociedade, o Estado assume a responsabilidade de zelar por essas regras, com uma dimensão que inevitavelmente supera a de qualquer outro agente econômico.
Dessa forma, o papel do Estado nunca deixará de ser importante. Mas a experiência histórica já mostrou que o Estado pode passar dos limites, agigantando-se a ponto de cercear a sociedade com novas regras que firam a liberdade e os direitos individuais.
Nesse sentido, a participação direta do Estado na produção mostrou-se abusiva e inibidora de outros agentes econômicos. Em países que se atrasaram no processo de desenvolvimento, o Estado chegou a ser visto como mola propulsora do crescimento e substituto da livre iniciativa, até que seu gigantismo, conjugado a uma crescente ineficiência, se tornasse a principal fonte de desequilíbrio dos sistemas econômicos, o que motivou um enorme esforço político para redimensioná-lo.
A crise internacional em curso não fará com que o Estado retome antigas atividades relacionadas diretamente à produção. Os mercados, cujas origens são mais remotas que as do Estado, vão continuar se constituindo em instrumento determinante dos sistemas econômicos; mas também não deixarão de prescindir de regulação. A lentidão do Estado em se adaptar ao rápido processo de transformação política e econômica pela qual o mundo passou nos últimos anos foi sem dúvida uma das causas da atual crise. E é esse ajuste que agora está ocorrendo, na prática, com o Estado cumprindo uma função econômica compatível com a delegação que as sociedades lhe atribuem.