Não se pode obscurecer o aspecto humano existente em qualquer crise econômica. Mais ainda numa com as proporções da atual, que só deverá ser menor que a da década de 30, quando o mundo naufragou numa depressão.
Mas, como em qualquer crise, nesta há a fria dimensão política e histórica.
E por este ângulo, distante dos embates ideológicos, conclui-se que, como sempre, o capitalismo que brotará do desmoronamento das pirâmides de títulos ilíquidos emitidos a partir de Wall Street será mais forte, por absorver as lições da própria crise. Está no DNA do capitalismo a “destruição criativa”, a capacidade de gerar desequilíbrios em busca de novos pontos de equilíbrio.
Para alguns, espanta como o discurso da livre iniciativa foi substituído por pesadas intervenções do Estado, principalmente nos Estados Unidos — na Europa existe uma cultura de intervencionismo —, num cenário dos sonhos de qualquer esquerdista radical.
Levantamento publicado durante a semana passada pelo “New York Times” indicava que o Tesouro americano já havia comprometido US$ 3 trilhões — três PIBs brasileiros —, seja na compra de ações de bancos ou de papéis encalhados em carteiras. A conta total, entre gastos efetivos na aquisição de participações, compra de títulos micados e garantias assumidas, chegava, nesse levantamento, a US$ 8 trilhões, ou o equivalente a mais da metade do PIB americano (de cerca de US$ 15 trilhões anuais).
Mas nada surpreende. A história das crises financeiras — e ela é longa; há casos no século XVII, por exemplo — demonstra que é chave definir o “emprestador de última instância” que sustentará o sistema, e ele costuma ser o Estado.
Outro exemplo: no século XIX, o Banco da França e o da Inglaterra, os BCs dos dois países, atuaram de forma coordenada para debelar um crash em parte da Europa. Agora, novamente surge o Estado como “emprestador de última instância” de recursos, é claro, do contribuinte. Não está sendo diferente nesta crise, nem o será na próxima. O debate importante a travar é sobre o grau de regulação necessário para o sistema financeiro globalizado voltar a gerar renda e emprego como fez durante o mais longo e produtivo ciclo de crescimento por que passou o mundo — e novamente sob controle privado.