Um dos aspectos mais detestáveis da “American way of life” é o culto incondicional aos que se dão bem na vida, aos aparentemente vencedores: o fundamentalismo de resultados. Ainda mais execrável é o seu complemento, o desprezo absoluto pelos perdedores, pelos fracos, pobres e pequenos, pelos “losers” que não conseguem dinheiro, poder ou felicidade.
Ou tudo isso junto, e também beleza, que se tornou um bem de consumo.
Porque vencer a qualquer preço não é um valor civilizatório nem moralmente aceitável. É o equivalente capitalista dos comunistas justificando os meios pelos fins. Por isso, numa sociedade ultracompetitiva, mas legalista, democrática e republicana, os que usam atalhos ilegais para “chegar lá” estão em minoria e, se flagrados, são punidos.
Por outro lado, nem todos os “losers” são vítimas de sua própria fraqueza, ignorância ou preguiça. Muitos que são vistos como perdedores são apenas independentes, artistas, intelectuais, até políticos, que fazem o que querem, ou acham que devem, e pagam o preço, em dinheiro e tempo perdidos.
No Brasil, a tradição é desprezar os bem-sucedidos. Aqui, o sucesso é ofensa pessoal, dizia Tom Jobim , vítima constante da inveja e do ressentimento provincianos.
Aqui, há um vezo por cultuar perdedores, culpando a sociedade, “todos nós”, por escolhas e fracassos individuais. Aqui é sempre diferente, mas desta vez foi mais diferente ainda.
O momento definidor da duríssima disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro foi quando o candidato Fernando Gabeira disse para seu adversário, um liberpolítico profissional idôneo, competente e ambicioso: “A diferença entre nós é que você faria qualquer coisa para ganhar a eleição. Eu não.” Eduardo Paes não pôde responder.
Nesse momento senti que Gabeira perderia a eleição. Mas faria história, com uma nova forma, limpa e positiva, sincera e criativa, de fazer política no Rio de Janeiro. Assim como a derrota de Marta Suplicy em São Paulo foi humilhante, a quase-vitória de Gabeira no Rio foi triunfal, um grande avanço e um justo orgulho para metade dos cariocas, uma esperança para todo o Brasil.
Aqui, o sucesso é ofensa pessoal, dizia Tom Jobim, vítima constante do provincianismo