Parece se confirmar, com a escolha do futuro secretário municipal de Saúde, pelo prefeito eleito Eduardo Paes, a sensata fórmula de nomear para cargos estratégicos profissionais à margem do jogo políticopartidário. Definido para a Fazenda o ex-secretário da Receita Federal Jorge Rachid, chegou a vez de Hans Dohmann ser indicado para a Secretaria da Saúde, outra área-chave. Reconhecido no meio, Dohmann, além de credenciais como médico, tem outro imprescindível cacife: bom relacionamento com o secretário estadual Sérgio Côrtes e o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Pelas características do Rio, onde se superpõem estabelecimentos médicos municipais, estaduais e federais, o bom relacionamento entre as autoridades, além de capacidade técnica, é fator decisivo em nomeações.
Um indicador positivo da escolha de Dohmann é a reação negativa de setores políticos que trabalharam na campanha do candidato do PMDB e são ligados às corporações sindicais que transitam na Saúde. Eduardo Paes, para definir o futuro secretário, não consultou a candidata derrotada no primeiro turno, e que o apoiou no segundo, Jandira Feghalli, do PCdoB, ela própria médica e muito ligada ao sindicalismo do ramo — conhecido obstáculo a qualquer proposta de aperfeiçoamento administrativo da rede de atendimento à população.
Agiu com sensatez o futuro prefeito.
Se, nesse caso, fosse atender a conveniências político-partidárias, teria uma importante promessa de campanha — melhorar hospitais e postos de saúde — engavetada antes mesmo de assumir.
Essa corrente sindical é contrária à proposta de criação de fundações públicas de direito privado para gerir, com base em princípios consagrados nas empresas privadas, estabelecimentos públicos de saúde. Por meio dessas fundações, é possível remunerar melhor os profissionais e, em troca, cobrarlhes eficiência — como acontece na vida real da grande maioria da população, empregada no setor privado e financiadora das máquinas públicas com os impostos que paga.
Esse tipo de organização tem sido aprovado com louvor na gestão de hospitais paulistas, e será criado pelo governo Sérgio Cabral. A prefeitura precisa copiar a fórmula, boicotada em Brasília, onde o ministro Temporão esbarra no PT para criar esse modelo na esfera federal. Basta observar de onde parte o fogo cerrado contra as fundações para se concluir pelo acerto dessa mudança. O Rio precisa aplicar a mesma idéia.