MADRI - Em um grande centro comercial de Seul, na Coréia do Sul, há uma espécie de museu da vida coreana. Uma das peças mostra um cidadão que é recebido com festa na aldeia, de volta da capital, onde fora admitido no serviço público.
Não, a festa não era por ter o cidadão conseguido uma "boquinha". Era apenas o orgulho de ser funcionário, de servir o público -coisa tão fora de moda nos tempos que correm, não é mesmo? Reencontro esse orgulho em uma entrevista de Martti Ahtisaari, o Prêmio Nobel da Paz.
"Não sou contra, em absoluto, que me chamem de diplomata, mas talvez devesse definir-me como um funcionário profissional, tanto em nível nacional como internacional", disse Ahtisaari a "El País".
É verdade que o Nobel da Paz é finlandês, pequeno país com, talvez, o melhor sistema educacional do planeta, o que ajuda a fazer de um funcionário um servidor público -e orgulhar-se disso. Suspeito de que a grande reforma de que o mundo todo precise -e o Brasil talvez mais ainda- seja exatamente a devolução do serviço público ao serviço do público, com perdão do jogo de palavras.
O país seria melhor se Henrique Meirelles, em vez de ser escolhido "o financista do ano", fosse eleito "o funcionário público do ano".
Vale para o Brasil, vale para os EUA. Dias atrás, Paul Krugman, outro Nobel, este de Economia, escreveu o seguinte a respeito do funcionalismo norte-americano: "Em todo o Executivo, os profissionais peritos foram destituídos; talvez não sobre no Tesouro ninguém com a estatura e a trajetória necessárias para dizer a Paulson [Hank Paulson, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos] que o que ele fazia não tinha sentido".
Quantos sobraram, nos diferentes Executivos brasileiros, capazes de dizer o que é melhor aos ministros e/ou secretários da Segurança, Educação, Saúde etc?