Um após o outro, os analistas internacionais começam a criticar o que entendem ser a incompreensível leniência dos bancos centrais para com a farra inflacionária que agora está à mostra de todos.
O século 21 começou passando a percepção de que a inflação mundial, tal como conhecida nos anos anteriores, havia desaparecido. O medo maior do presidente de então do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Alan Greenspan, não era a inflação, mas o contrário dela, a deflação.
Greenspan advertia na época que a deflação criaria um problema fiscal porque derrubaria a arrecadação dos impostos calculados sobre os preços. Além disso, dizia ele, ela dificultaria a execução da política monetária (política de juros) na medida em que obrigaria o Fed a operar a juros zero ou quase zero, como aconteceu no Japão.
Essa fase de inflação global muito baixa foi o resultado da atuação de dois fatores mais importantes. O primeiro foi a crescente utilização de mão-de-obra asiática, de custos muito baixos, que derrubou os preços dos produtos industrializados. E o segundo, o aumento da produtividade proporcionado pelo uso intensivo de Tecnologia da Informação (TI). Ou seja, o computador e a internet aproximaram produtor e cliente, um ficou sabendo mais rapidamente das necessidades do outro, processo que reduziu a exigência de estoques, instalações, máquinas, capital de giro e pessoal.
Ainda não terminou o processo de incorporação de mão-de-obra barata ao sistema nem se completou o emprego de TI. No entanto, a fase de inflação baixa foi suplantada por novo aumento de custos, determinado pela escalada dos preços das matérias-primas e da energia, em conseqüência do aumento da demanda global mais rápido do que o da capacidade de oferta.
Dizer que a erupção da inflação foi conseqüência de uma política monetária leniente dos grandes bancos centrais é avançar o sinal porque, a rigor, não havia inflação a combater. O que se pode dizer é que, do início do ano passado para cá (veja o gráfico), há sim uma inflação global crescente a pedir contra-ataque. E que os bancos centrais dos países ricos continuam expurgando os preços dos combustíveis e dos alimentos do núcleo da inflação a combater, como se tratasse de mera inflação de custos que juros mais altos não conseguiriam derrubar.
CONFIRA
Não podem quebrar - Fannie Mae e Freddie Mac, as duas megacompanhias americanas cuja função é dar garantia às hipotecas, estão tecnicamente quebradas. Mas não podem quebrar porque estão atoladas em cerca de US$ 6 trilhões em empréstimos habitacionais.
Mais do que técnica, a questão é política, especialmente em período eleitoral. Não há solução fora de uma enorme operação de resgate com verbas públicas. Mas, até agora, aparentemente, o governo americano não definiu o que fazer.
O mercado financeiro viverá nesta semana uma nova novela: a expectativa de uma saída.