sábado, março 29, 2008

O conteúdo da rede agora em 3D

A multiplicação das telas

Novos sites e programas mostram o
conteúdo da internet em três dimensões


Carlos Rydlewski

A web em 3D

Searchme
O que é: site de busca da internet
O que faz: em vez de apresentar um resumo do que as páginas pesquisadas oferecem, como as ferramentas de busca tradicionais, mostra imagens dos sites relevantes

Divulgação
Spacetime
O que é: um programa
O que faz: instalado em PCs, modifica a maneira como as informações de sites como Google e eBay são visualizadas
The New York Times
Piclens
O que é: um programa
O que faz: com base em uma palavra-chave, seleciona fotos relacionadas ao tema em sites como Google Images, Flickr ou MySpace e as apresenta num painel tridimensional

Há duas maneiras de visualizar as informações na internet: o sobe-e-desce dentro de uma mesma página e o vaivém entre telas, uma depois da outra. Essa realidade, porém, começa a mudar. Novos programas e sistemas de busca já permitem organizar o conteúdo da web – páginas, fotos ou vídeos – num espaço "panorâmico", de três dimensões. Ou seja, exibem, simultaneamente, várias telas da rede de computadores. "A grande vantagem dessas novas ferramentas é que as pessoas passam a ver, de imediato, um número maior de informações, que ficavam escondidas nas consultas tradicionais", disse a VEJA John Holland, co-fundador do Searchme, um dos expoentes dessa recente geração de produtos.

O principal impacto dessas novidades, pode-se prever, será sobre as ferramentas de busca – ponto de partida para a maior parte das navegações na internet. Quem hoje consulta o Google, por exemplo, obtém uma lista de sites cujo conteúdo é resumido em uma ou duas frases. O Searchme altera esse padrão: em vez de uma lista, apresenta imagens – instantâneos de páginas da internet, com todos os seus gráficos, fotos e textos. Com o cursor, é possível passear de uma página para outra, como quem folheia as páginas de um livro. Trata-se de um efeito semelhante ao obtido com o Cover Flow, da Apple, o programa empregado em produtos como o iPhone e o iPod Touch.

O Searchme ainda está em fase de testes. O acesso a ele é restrito – só será ampliado em meados de abril. Mas vídeos com demonstrações do software podem ser vistos no endereço www.searchme.com. Embora traga outros atrativos – caso da divisão do resultado da pesquisa em categorias –, o Searchme também terá de ampliar muito o seu banco de dados e refinar as equações que utiliza para determinar a relevância dos sites em cada pesquisa. Hoje, existem 85 bilhões de páginas na rede – e o que diferencia o Google é a capacidade de separar o joio do trigo e apresentar ao usuário os sites que realmente respondem aos seus interesses. Mas, se em pouco tempo conseguir dar um salto nessa parte "técnica", o Searchme terá na sua cativante apresentação com telas múltiplas uma vantagem competitiva. Aberta em 2005, a companhia já atraiu investimentos de 31 milhões de dólares do Sequoia Capital, fundo que financiou desde o berçário atuais gigantes da tecnologia como Google e Yahoo!.

Divulgação

O toque que falta: o acesso ao conteúdo dos computadores será facilitado com telas touch screen, como a criada por Jeff Han (acima) e a que consagrou o iPhone

Dave Einsel / Getty Images

A internet em 3D também pode ser obtida por meio de programas que modificam a aparência de um site. Esse é o caso do SpaceTime. Ao contrário do Searchme, ele não faz a busca, apenas expõe de maneira nova, como no Windows Vista, as imagens previamente encontradas numa pesquisa. É especialmente útil quando aplicado ao eBay. Nesse caso, o SpaceTime mostra as fotos dos produtos consultados como se estivessem num mosaico ou num catálogo, um ao lado do outro. É gratuito e pode ser usado em sistemas operacionais da Microsoft (Windows 2000, XP e Vista). Outro programa desse tipo é o PicLens. Funciona em sites como Flickr, MySpace e Facebook, e também em ferramentas de busca como Google, Live Search e Yahoo!. É uma espécie de slide-show bastante incrementado. O PicLens distribui as fotos em um grande painel tridimensional, como se estivessem na parede de um museu – e é possível "caminhar" diante delas.

A indústria de eletrônicos sempre se preocupou em produzir periféricos novos para os computadores, ou incrementar os existentes. Criar mouses melhores, teclados com maior número de funções, monitores mais nítidos e com um design mais belo é tarefa que mantém as empresas do setor em pé. Entre os aparelhos mais espetaculares lançados nos últimos anos estão o iPhone e o console de jogos Wii, da Nintendo – o primeiro é operado por toques na tela e o segundo tem um controle remoto com sensor de movimentos. A tecnologia da tela do iPhone já está sendo adaptada para notebooks e computadores de mesa. Há mais de um ano Jeff Han, pesquisador do Courant Institute of Mathematical Sciences da Universidade Nova York, tem feito demonstrações das possibilidades desse tipo de recurso. Han criou um telão em que manipula imagens usando a ponta dos dedos, à semelhança do que o ator Tom Cruise fazia no filme de ficção Minority Report. Curiosamente, enquanto todas essas inovações espetaculares transformavam a maneira como o homem interage com as máquinas, as alterações no mundo bidimensional que se vêem na tela dos computadores caminhavam lentamente. A base da interface gráfica dos programas e sistemas operacionais remonta aos anos 70 e surgiu no lendário laboratório da Xerox, em Palo Alto, nos Estados Unidos. Naquele mundo pré-internet, mexer num computador era mexer, acima de tudo, com texto. Hoje, lidar com fotos e vídeos tornou-se trivial. Daí a importância do salto para a terceira dimensão na tela dos computadores, exemplificado pelo surgimento do Searchme, do SpaceTime ou do PicLens. Isso permitirá lidar melhor com esse mundo de imagens.