sábado, março 29, 2008

MELCHIADES FILHO Ser mãe é...

BRASÍLIA - A mensagem de Lula quando trocou Dilma Rousseff de ministério, em 2005, foi clara. O momento pedia uma Casa Civil "técnica", menos dedicada ao PT e mais às urgências da máquina administrativa. Um contraponto à gestão de José Dirceu, que caíra por não reconhecer fronteiras entre os interesses do partido e os projetos executivos do governo.
Dilma topou a narrativa e abraçou o papel de gerente. Não fez média nem com a cúpula petista. Dispensou quadros do partido e cercou-se de pessoas de sua confiança.
A meia dúzia de escolhidas haviam-na acompanhado em outras etapas da carreira pública ou eram amigas dos tempos de guerrilha.
Mulheres, como ela, dispostas a abdicar da vida "civil" e se entregar ao trabalho todo o dia, todos os dias.
Erenice Guerra havia causado boa impressão em Dilma nas Minas e Energia, não só pela eficiência como consultora jurídica mas porque se parecia com a chefe: pau pra toda obra, discreta e difícil de intimidar.
Não à toa, uma vez nomeada secretária-executiva, logo ficou conhecida como "a Dilma da Dilma". Impessoal e intransigente, replicava a titular nos eventos menos badalados, ao lidar com os pleitos de políticos desimportantes e na condução do que não fosse do PAC (da reforma do Palácio do Planalto ao motim dos controladores aéreos).
Daí o espanto com a revelação de que a "técnica" Erenice encomendou a coleta de dados sigilosos e a edição de um catatau com gastos de FHC e da ex-primeira-dama -munição contra ataques da oposição.
Seria precipitado traçar paralelo com Waldomiro Diniz, o assessor de Dirceu acusado de negociar concorrências com bicheiros. Ou com os "aloprados" que contrataram uma denúncia falsa com dinheiro de origem até hoje desconhecida.
Ou com o Caseirogate de Palocci. Mas o núcleo do governo que se dizia "acima da política" no mínimo perde essa marca. A mãe do PAC, e de Erenice, deve explicações.