sábado, março 29, 2008

CLÓVIS ROSSI Carícias no pântano

SÃO PAULO - Por mero instinto -um péssimo instrumento para jornalistas, admito-, acho que a ministra Dilma Rousseff não tem culpa direta no dossiê sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso. Não parece ter déficit de caráter a ponto de tomar a iniciativa de telefonar para Ruth Cardoso para negar a existência do dossiê se de fato o tivesse pedido.
Fica portanto a impressão de que Dilma foi enganada pela sua principal assessora, Erenice Alves Guerra, que reportagem desta Folha apontou como a autora do dossiê.
Não adianta agora o pessoal do governo, em coro, negar que se trate de dossiê. Os dados revelados -e não desmentidos- compõem o típico dossiê. Ou "crime", para lembrar definição da própria Dilma.
Voltando, então, à culpa da ministra. O problema com ela e com todo o Palácio do Planalto, principalmente o seu principal ocupante, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o de terem permitido a criação de um ambiente turvo, embaçado, no qual, fatalmente, prosperam tais tipos de "crimes".
Nem é preciso recorrer à oposição para encontrar caracterizações tremendas para os "crimes". Frei Betto, amigo pessoal da família Da Silva, ex-assessor especial, chamou de "tumor fétido" o que houve na crise do mensalão. Ciro Gomes, ex-ministro de Lula, disse, mais recentemente, que ele (como Fernando Henrique Cardoso, aliás) aliou-se à "escória".
E o segundo homem na hierarquia do PT, o deputado José Eduardo Cardozo, secretário-geral do partido, disse o seguinte, também sobre o mensalão: "Teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal?
É. É indiscutível? É. Não podemos esconder esse fato da sociedade".
Lula, no entanto, acaricia sempre "mensaleiros", "aloprados" e até Severino Cavalcanti. É óbvio que, no Palácio, todos se sentem estimulados a novos "crimes".