O custo pela acumulação de reservas é alto, mas não tenho dúvida de que não estamos trocando seis por meia dúzia NA SEMANA passada, expressei neste espaço meu quase entusiasmo com o fato de o Brasil ter se tornado uma nação credora com o exterior. Ao expressar esse meu sentimento, sabia que iria provocar reações contrárias em muito de meus leitores. E elas realmente aconteceram. Excluídos os leitores petistas, que sempre me bombardeiam com ataques menos civilizados, sobraram questionamentos inteligentes e pertinentes. Vou tentar respondê-los na coluna de hoje. A questão mais importante levantada por leitores da Folha foi a do crescimento da dívida interna -caríssima- por conta do acúmulo de reservas. Como o governo federal tem um déficit fiscal, o dinheiro para a compra dos dólares ofertados no mercado de câmbio vem da emissão de títulos da dívida interna. Dessa forma estaríamos, usando um dito popular, trocando seis por meia dúzia e ainda pagando um custo por conta do diferencial de juros em reais e em dólares e da valorização do real. Caberia aqui, portanto, uma pergunta para mim: ESTÁ RINDO POR QUÊ? A resposta a esse questionamento é simples, embora exija uma leitura cuidadosa da dinâmica econômica de hoje no Brasil. A força do real, em razão de nossas reservas de US$ 190 bilhões, está provocando uma verdadeira revolução no mercado financeiro brasileiro. Investidores internacionais de peso estão trazendo dinheiro para o mercado de renda fixa, principalmente no segmento de prazos mais longos. Temos hoje um mercado de títulos privados de até 20 anos de prazo. Com isso, temos -pela primeira vez na nossa história- uma estrutura a termo de taxas de juros. Dificilmente teríamos isso sem o dinheiro de fora por conta da confiança na taxa de câmbio. Os anos de chumbo da inflação deixaram uma marca indelével no sistema bancário brasileiro: operações de curto prazo e indexadas à inflação. São os investimentos de fora que romperam com esse comportamento de bancos e investidores. Os benefícios são enormes para a economia. Se hoje temos financiamentos ao consumidor de até seis anos de prazo, é por conta desse mercado de títulos de longo prazo. O mesmo acontece com o crédito às empresas, criando uma força importante para chegar ao crescimento econômico que temos hoje. Os custos pagos pela acumulação de reservas são elevados, mas não tenho dúvida de que, neste momento de transição de nossa economia, não estamos trocando seis por meia dúzia ao acumularmos reservas. Existe um ganho expressivo para nós, brasileiros, derivado da redução da volatilidade da economia, que favorece o crescimento e a arrecadação de impostos. Mesmo com a continuidade do crescimento dos gastos públicos além do razoável, o déficit público continuará caindo em 2008. A força da economia é tão clara que nem o fim da CPMF foi capaz de afetar gravemente a arrecadação, como mostraram os dados da Receita Federal referentes a janeiro. Gostaria ainda de citar outro benefício que colhemos com essa condição de país credor em relação ao exterior: a incrível resistência da economia mesmo em tempos bicudos como o que estamos vivendo. A crise bancária no G7 ainda não chegou aqui por conta da força de nossa situação externa. Há riscos elevados no cenário externo, mas o cenário mais provável para o Brasil ainda parece ser o de crescimento próximo ao ritmo de 2007, já que não há fuga de capitais nem enfraquecimento da moeda. |