Representantes de partidos de esquerda e de centro-esquerda da Europa e alhures reuniram-se ontem em Paris para o seminário "A Via Progressista", com direito a palestra do ex-primeiro ministro inglês Tony Blair e do atual francês, François Fillon. O anfiteatro Richelieu, da Sorbonne, estava lotado, inclusive de estudantes. Tiveram uma ótima chance de ouvir gente ilustre, carismática e bem-intencionada, mas não aprenderam nada de novo. De Blair, "star" da festa: 1) a relação dos países ricos com a África não deve ser paternalista, mas de parceiros, com os ricos abrindo seus mercados e os pobres combatendo a corrupção; 2) os jovens europeus andam meio desconfiados com a UE e seu impacto sobre os empregos deles; 3) muita gente é contra a migração, sem ser racista; 4) o sistema de educação não está sendo capaz de ensinar as crianças a pensar. É preciso mudar; 5) os homens públicos às vezes são contraditórios. Exemplo: propõem menos taxas e, ao mesmo tempo, melhores serviços. Ok. Eis aí um bom diagnóstico, mas e daí? Quais as sugestões? O representante brasileiro, ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), fez bonito. Presidiu uma das três mesas, foi o primeiro chamado a fazer perguntas a Blair e garantiu o próximo encontro dos "progressistas" em Brasília -para desgosto de Blair, que preferiria o Rio. (Será por quê?) O curioso é que o único representante brasileiro num encontro internacional de centro-esquerda não é do PT, do PSB, do PDT, nem mesmo do PSDB. O ministro é do PRB, uma salada que mistura o vice José Alencar e a Igreja Universal. Mangabeira foi convidado porque é Mangabeira, não pelo partido. E acabou sendo, assim, um símbolo da crise partidária no Brasil. A centro-esquerda não está apenas sem respostas. Talvez esteja sem muitas outras coisas. |