sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Clóvis Rossi - Crimes, pequenos ou grandes




Folha de S. Paulo
29/2/2008

À primeira vista, parece exagerada a suspeição em torno do vereador petista Antônio Donato, responsável pela contratação da Finatec -a mais recente grife na coleção de firmas envolvidas em trambiques ou suspeitas fortes. A empresa deveria elaborar modelo de gestão das administrações regionais paulistanas quando Donato era secretário das Subprefeituras (governo Marta Suplicy).
Afinal, Donato recebeu uma doação de meros R$ 4 mil da Pro-Sistemas, subcontratada pela Finatec. É muito improvável que um político se venda tão barato, mesmo sendo um político brasileiro, dos quais se espera tudo, inclusive vender-se a baixo preço.
Mas um segundo exame de toda a história e do ambiente político geral torna lógicas as suspeitas. Primeiro, uma prefeitura como a de São Paulo, ou tem capacidade interna para criar modelos de gestão, ou é melhor fechar as portas (vale para todos os prefeitos).
Ao terceirizar tais serviços, o poder público abre espaço para subterceirizações, criando-se tal teia de interesses e pagamentos que escapam ao controle do distinto público e até dos contratantes, no pressuposto de que estes tenham agido de boa-fé.
Nos buracos dessa teia, infiltram-se especialistas como o petista Luiz Antônio Melhado, dono da empresa Pro-Sistemas, que trabalhou com diferentes prefeituras (do PT, claro, nem precisaria dizer), de Santos a Fortaleza.
Ou é um gênio em gestão pública, hipótese que lhe deveria valer um posto no ministério de Lula, claramente carente nessa área, ou é apenas um campeão das "boquinhas", como Anthony Garotinho uma vez definiu o PT.
Como o presidente jamais condenou os trambiques anteriores de petistas e aliados, só podia mesmo prosperar esse ambiente embaçado, sejam as quantias grandes, sejam as pequenas.