O Estado de S. Paulo |
1/2/2008 |
O presidente Lula mandou que “a equipe econômica cerre as fileiras para que não haja inflação e as metas sejam cumpridas” - avisou ontem o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Mas o Banco Central não precisou dessa força para passar o recado de que a política de juros será acionada para conter a inflação, como está na Ata do Copom ontem divulgada. Primeiramente, vamos a algumas premissas e, depois, ao que significa o aviso do Banco Central. Ao contrário do que pensa tanta gente no governo, o presidente Lula está solidamente convencido de que uma inflação em alta não reflete apenas mudanças em determinadas gavetas da economia. É, mais que tudo, um fato político capaz de deteriorar o apoio que o assalariado dá ao governo. Em outras palavras, a população é sempre muito mais sensível ao que acontece com a inflação do que ao que ocorre com o emprego. Aumento de inflação é sinônimo de deterioração do poder aquisitivo. É, portanto, fator eleitoral negativo de grande importância. Dessa forma, político conseqüente é aquele que apóia a briga contra a inflação, especialmente em anos eleitorais. A Ata do Copom não é, como alguém possa imaginar, uma peça entediante que relata o que se passa na reunião da diretoria do Banco Central - que se realiza aproximadamente a cada 44 dias -, quando decidem a calibragem dos juros. É um dos instrumentos usados para orquestrar as expectativas dos agentes econômicos (empresários, consumidores e gente de finanças) de modo a que conduzam seus negócios de acordo com a partitura em execução. E o que o Banco Central acaba de dizer é que detectou uma carga inflacionária forte na economia. O consumo dispara em ritmo mais alto do que o do suprimento de bens e serviços proporcionado pelo setor produtivo. (O gráfico mostra o que está acontecendo no setor de alimentos, que pesa 21,4% no orçamento do consumidor e foi responsável por 60% dos aumentos dos preços em dezembro.) Este é o quadro típico que os economistas chamam de inflação de demanda. O consumo no Brasil cresce a cerca de 10% ao ano e, enquanto isso, o PIB avança não mais do que a metade disso. Como as importações não conseguem suprir a diferença, esta é a situação em que a procura avança mais rapidamente do que a oferta, a ponto de colocar em risco a meta de inflação para o ano, que o governo estabeleceu em 4,5%. E o tratamento de política monetária para enfrentar o problema é reduzir a ração de dinheiro que circula na economia (aumento dos juros). O Banco Central não diz que a alta dos juros vai necessariamente acontecer, mas adverte que, dependendo da evolução dos fatos, pode sair já a partir de 5 de março, próxima reunião do Copom. Pelo sim ou pelo não, o Banco Central vai preparando os espíritos para a virada. Este não é um movimento meramente técnico. Tudo se passa como se preparasse para uma fase de aperto agora para que, às vésperas das eleições (não só neste ano, mas principalmente em 2010), o governo possa alardear nos palanques que mais uma vez defendeu o salário do trabalhador e que, assim, merece seu voto. Dunton disse que as ações dos bancos e das seguradoras de crédito estavam baratas demais e que vem aí uma grande virada nos preços. A Bolsa americana começara o dia em baixa de 1,6%. Foi só Dunton ter dito o que disse e o mercado mudou de rumo. Fechou com alta de 1,5%. |