representantes de 12 grandes bancos internacionais reunidos em Londres deram o sinal verde para a composição do capital necessário para que a Vale faça uma oferta pela mineradora anglo-suíça Xstrata, avaliada em cerca de US$ 90 bilhões. O aspecto essencial da concordância, que significa um aporte de US$ 50 bilhões, é que ele foi feito sem a exigência de garantias adicionais. No início das negociações os bancos temiam que a companhia brasileira poderia aumentar demais seu endividamento com a operação de compra da mineradora e, por isso, ser rebaixada no grau de investimento, uma referência internacional para negócios. Os executivos da Vale apresentaram os planos da proposta e suas perspectivas para duas das maiores agências de risco, a Standard & Poor""s e a Moody""s, que deram indicações de que a empresa não perderia o grau de investimento por contar com suficiente capacidade e proteção financeira no negócio. Depois disto, o sinal verde dos bancos foi imediato. Porém, curiosamente, o que é bom, especialmente promissor para uma dúzia de grandes bancos internacionais e é avalizado por duas agências de risco (em um momento de baixa liquidez como este no mercado internacional), enfrenta inesperadas resistências no Brasil. E o maior foco dessa resistência está em setores retrógrados e xenófobos do próprio governo. A oposição desses setores ao negócio começa no valor envolvido no negócio, porque a Vale está avaliada em US$ 120 bilhões. E continua pela forma de pagamento da operação, troca de ações com a entrega de US$ 30 bilhões em ações preferenciais. Nesse ponto a oposição ao negócio ganha rosto definido: o BNDES e a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Ambos não aceitam oferecer plenamente o direito de tag along, embutido nas ações preferenciais, isto é, o direito que se estende aos acionistas minoritários dando as mesmas condições alcançadas pelos controladores na venda do controle da empresa. Esses acionistas da Vale resistem em repassar plenamente esse direito como pagamento pela Xstrata. Há uma manobra perversa, para dizer o mínimo, nesse argumento. Os controladores da mineradora anglo-suíça não gostam de negócios com ações preferenciais, aceitando mais as ordinárias, e necessitam receber alguma compensação para aceitá-las. Não há sentido nessa interferência porque a Vale é uma empresa privada que não deve sofrer interferências de instâncias governamentais. Em verdade, o que está em jogo na expansão da Vale é amarra final do falido estatismo brasileiro sobre a capacidade de fazer negócios com eficiência da iniciativa privada brasileira. E os executivos da Vale sabem disso, tanto que a arquitetura dessa operação foi pensada em três etapas: primeiro, confirmar o interesse da Xstrata por ações preferenciais; depois, confirmar o financiamento com os bancos, mantendo o grau de investimento; e, por último, aprovar o negócio no conselho da empresa, com controle da Previ, Bradespar, Mitsui e BNDES. As duas primeiras foram ultrapassadas. A resistência do estatismo ineficiente deve ser contraposta às duas vertentes de eficiência da Vale, ambas com forte perfil estratégico. A primeira diz respeito à evolução da empresa, a capacidade que a Vale já demonstrou para digerir negócios de grande porte, como fez quando comprou a mineradora canadense Inco. A segunda vertente alimenta a projeção de crescimento da empresa a curto e médio prazos e atende à necessidade da empresa de diversificar a produção, em especial para metais não-ferrosos. A compra da Inco já atendeu à essa estratégia, porque antes dessa compra a Vale tinha 75% da receita vinculada a minério de ferro, índice que caiu a 50% com a produção de níquel. Com a Xstrata, maior produtora mundial de ferro cromo usado em aço inox e segunda produtora de zinco, carvão e cobre, essa diversificação se amplia. Basta pensar na expansão de 11,5% do PIB chinês para entender a promissora viabilidade de se transformar na primeira mineradora do mundo, fornecedora de commodities para as próximas etapas dessa expansão. O presidente Lula afirmou que está "neutro" em relação à compra da Xstrata pela Vale, sem esquecer que, se há resistências dos xenófobos, os executivos da empresa não teriam sequer pensado nas primeiras etapas de negócio com tais dimensões sem algum estímulo inicial de Brasília. Se esses setores atrasados querem fugir da competição internacional inviabilizando ganhos de escala da Vale, a iniciativa privada brasileira não pode ficar inerte. Não é possível virar as costas para a globalização nesse momento. Em especial envolvendo uma empresa que está ganhando espaços e concorrências no mercado internacional, gerando emprego e renda para os brasileiros. As partes atrasadas do Estado no Brasil, que não conseguiram sequer gastar um terço das verbas destinadas a acelerar o crescimento do País ao longo do ano passado, deveriam apenas deixar a Vale trabalhar e crescer. E nada mais. |