Artigo - Octavio Mello Alvarenga |
O Globo |
28/1/2008 |
Uma das mais interessantes reuniões promovidas no Rio de Janeiro, nos últimos tempos, aconteceu em dezembro passado, na sede da Associação Comercial, onde o vice-presidente José Luiz Alquéres pôs em discussão a existência de uma megalópole formada por municípios de Minas, São Paulo e Rio. Uma estranha macrorregião que, tendo vértices em Campinas, Juiz de Fora e Campos, concentra 23% da população do país. Por que estranha? Pelo fato de o economista André Urani demonstrar que esta área, inferior a 1% do território nacional, pretende comandar a economia e as finanças do país, embora seu crescimento econômico esteja totalmente atrofiado. Vários oradores, coordenação de Merval Pereira, suspense no auditório esperando Fernando Henrique Cardoso, que chegou atrasado de São Paulo e fez breve discurso repassado de bom humor. Enquanto ouvia os discursos e apartes finais, fui provocado a fazer uma comparação com dados e perspectivas de outra reunião promovida, poucos dias antes, no auditório da Confederação Nacional do Comércio: o 9º Congresso Nacional de Agribusiness. E o que me vinha ao espírito contrapunha-se à megalópole em discussão. Era um conjunto de unidades produtivas, do Brasil Central, cujos "pesos pesados" estiveram no congresso. Recordemos que a soma das cadeias produtivas (ou seja, o agribusiness brasileiro) é igual a 29% do PIB, gera 37% de todos os empregos, responde por 36% das nossas exportações e por 92% do saldo de nossa balança comercial. Este resultado formidável é produto de vários esforços disseminados pelo país, que pode ser o celeiro do mundo. Afinal, nosso clima não apresenta drásticas variações, dispomos de água para irrigação, e temos ainda 90 milhões de hectares livres para plantar, colher e comercializar, tendo na base de tudo a pertinácia. Geograficamente o agribusiness brasileiro tem sua coluna vertebral no centro do território, espraiando-se por Goiás, Mato Grosso (os dois estados), parte de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, esticando-se em direção à Amazônia. Levanta-se atualmente uma justíssima bandeira contra o desmatamento da Amazônia e discute-se bastante sobre o álcool (ou etanol). Convém recordar que, em 1989, um grupo de ecologistas lançou na SNA o "Manifesto da Amazônia". Quanto ao álcool, deve-se lembrar que em 1903, isto é, há cento e três anos, o Rio de Janeiro sediou o Primeiro Congresso Internacional do Álcool, no qual era predicado sua utilização nos motores dos automóveis. José Luiz Alquéres propõe uma "virada histórica para reencontrar o dinamismo". Está certo. Esta virada, ou seja, a derrota das enfermas e anquilosadas regiões metropolitanas indicadas pelo economista Urani está no dinamismo do agronegócio. Nem tudo são flores. Às vésperas de encerrar-se o ano de 2007, analisando a desaceleração da economia dos Estados Unidos, que estão ficando menores do que já foram em relação ao PIB mundial, Míriam Leitão não derrapou na facilidade de ver tudo azul no horizonte brasileiro. Afinal, escreveu ela, o Brasil teve um bom desempenho, mas não "tão bom assim, quando comparado com a média dos emergentes. Nossos prováveis 5,3% são bons, mas a verdade é que os países (...) em desenvolvimento cresceram 8% em média". Tais alertas não invalidam a evidente derrota da megalópole sulina - frente a frente ao agronegócio brasileiro. |