Stefan Salej, mais mineiro que esloveno, diz que seu coração bateu mais rápido no dia 20 de dezembro, a data em que caíram as fronteiras restantes na Europa, permitindo que um cidadão que parte de Lisboa de carro chegue a Oslo sem precisar apresentar uma única vez o passaporte, mesmo que atravesse os 24 países que já implementaram a abertura. Quase 60 anos atrás, em 1949, o garoto Salej (pronuncia-se Salêi) foi preso com a mãe tentando ambos fugir do comunismo na então Iugoslávia, depois de o pai ter sido preso. Nada mais natural, portanto, que a lembrança daqueles anos duros fizesse acelerar o coração desse esloveno que presidiu a Federação das Indústrias de Minas Gerais, o que o leva a considerar-se brasileiro ainda hoje, mesmo sendo assessor especial da chancelaria eslovena para a América Latina. A vida deu muitas voltas também na Europa, o continente que, no século passado, foi o palco de duas guerras mundiais e o berço de totalitarismos como o comunismo e o nazismo. Para a geração de Salej é, pois, toda uma epopéia poder passar para a Itália (ou Áustria, ou Hungria, três dos quatro vizinhos da Eslovênia) como se se tratasse de um passeio dominical à casa de amigos. Para quem, como eu, da mesma geração, mas nascido e criado no Brasil, é motivo também de inveja. Afinal, nos modestos quatro países que formam o Mercosul (fora os associados), que não tiveram guerras no século passado (pelo menos não entre si), é quase incompreensível que ainda haja controles fronteiriços que, à primeira dificuldade, podem se transformar em um tormento para ultrapassar. Já não passou da hora de os latino-americanos gastarmos menos papel com retórica e passarmos ao que interessa de uma boa vez, que é a derrubada de fronteiras que só seguram cidadãos comuns, mas não armas, drogas e dinheiro sujo? |