O Estado de S. Paulo |
30/1/2008 |
No mundo inteiro, o crédito é um dos combustíveis do crescimento. Ontem, o Banco Central mostrou que, em 2007, o crédito no Brasil cresceu 27,3% e foi responsável pelo avanço do PIB provavelmente superior a 5%. Esse salto é conseqüência da melhora das finanças públicas. Até pelo menos 2002, todo o sistema financeiro nacional vivia de emprestar dinheiro para o governo. O Tesouro não dava conta das despesas - sempre exageradas - e emitia títulos para obter recursos e dar-lhes cobertura. A partir do momento em que a dívida pública caiu para a altura dos 44% do PIB (chegou a 60% do PIB), como está hoje, os juros mergulharam e sobraram recursos para o financiamento do consumo e da habitação. Essa mudança obrigou os bancos a correr atrás da clientela e a assumir os custos aí embutidos. A instituição do crédito consignado (desconto diretamente do salário do trabalhador ou do benefício ao aposentado) facilitou o avanço do crédito que, por sua vez, ajudou a puxar o consumo. Não fosse a sua expansão, as vendas da indústria automobilística não teriam crescido 27,8%, como ocorreu em 2007. Uma das conseqüências da maior competição dos bancos nesse segmento é a ampliação dos prazos de empréstimo. Hoje, consegue-se financiamento de veículos em até mais de 60 meses, o que não deixa de ser um excelente negócio para o banco. Ele obtém por mais tempo um retorno (juros) alto, quando a tendência é de queda. Apesar do aumento da competição entre os bancos, o crédito é ainda muito caro no Brasil. E isso não acontece apenas em conseqüência do spread (diferença entre o que o banco paga pelo dinheiro e o que recebe por emprestá-lo) alto demais. Em parte, se deve à forte carga de impostos e ao empréstimo compulsório, a parcela que o banco tem de entregar de graça ao Banco Central. Os juros cobrados no crédito ainda são muito altos. Os juros básicos (Selic) caíram, mas a reação na ponta do consumidor é pouco significativa (veja gráfico). Os bancos tentam justificar-se com o argumento de que o crédito se expandiu, alcançando segmentos de risco maior e que essa carga tem de ir para o preço do financiamento. Embora tenha dado um salto (de 22% do PIB em 2002 para 34,7% em 2007), o crédito ainda é um mercado estreito no Brasil. Apenas para comparar, em 2005 ele era de 280% do PIB nos Estados Unidos e de 98% na Coréia do Sul. Neste ano, a expansão do crédito enfrenta dois limitadores. O primeiro é o aumento da inadimplência, de 11,3% em 2007. E o segundo, a provável redução do poder aquisitivo do assalariado, que enfrenta neste ano um aumento de cerca de 10% nos preços dos alimentos, o que deixa menos folga no seu orçamento para aumento do seu endividamento. Confira Comem mais e melhor - Ontem, o jornal Financial Times, de Londres, publicou reportagem (Developing tastes) que mostra o enorme crescimento do consumo de alimentos de padrão ocidental na Ásia. Anote este trecho: “Por volta de 2025, o consumo de alimentos da Índia deverá quadruplicar, para US$ 1,5 bilhão por ano.” E este outro: “Na próxima década, a renda per capita da China deverá triplicar, o que significa que os chineses vão comer mais e melhor.” A alta dos alimentos tem de ser explicada por acontecimentos desse tipo.
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