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| Folha de S. Paulo | 29/1/2008 |
| Como diria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tivesse ido a Davos neste ano, nunca nestas montanhas se viu tanto verde/marrom (de árvores e terra) e tão pouco branco (da neve). De fato, faz 19 janeiros consecutivos que vou à Suíça. Na primeira vez, voltava da cobertura da Guerra do Golfo (a primeira). Entrei na loja da Ibéria em Zurique para refazer minha passagem de retorno ao Brasil. A atendente me avisou que era complicado e levaria tempo. Dei graças a Deus. Lá fora, o frio rachava até os ossos. Lá dentro, a calefação acariciava o corpo moído pelo desgaste que é sempre cobrir guerras. Neste ano, mesmo em Davos, nos picos alpinos, havia gente almoçando nas mesinhas na calçada do Hotel Europe, na Promenade, a única avenida da cidadezinha de 13 mil habitantes. Na partida, domingo, fizemos seis horas de trem de Davos a Munique, a maior parte do tempo com os Alpes nos olhando das janelas. O tempo todo, neve só mesmo nas partes mais altas. No ano passado, de Genebra, já havia escrito o texto "Cadê a neve que estava aqui?", reclamando do calor que fazia em janeiro na deliciosa cidade às margens do lago Leman. Foi antes do relatório científico sobre a mudança climática -aterrorizante, aliás. Dizia, então, que me sentia como uma espécie de enviado especial ao aquecimento global. Não estou sozinho. Em Davos, Yoshinori Imai, principal apresentador da NHK, a rede japonesa de TV, também espantado com a temperatura, dizia: "As pessoas já estão sentindo na pele o efeito da mudança climática". Imai entende de neve e de frio muito mais do que eu, porque no Japão também neva. O que me espanta é que essas evidências fisicamente perceptíveis não comovam os governantes, os empresários, o público em geral (salvo as exceções de praxe) a agir enquanto é tempo. | | | |