O Estado de S. Paulo |
1/11/2007 |
Uma das maiores lendas urbanas do cenário político reza que o presidente Luiz Inácio da Silva é uma coisa, o PT outra diferente e caminham ambos para se distanciar cada vez mais. Puro fruto de imaginações deformadas pela indução da conveniência de separar a figura do presidente das peripécias “alopradas” do PT. Quando se trata de manter o controle do partido e evitar mudanças de rumo inconvenientes, a realidade ocupa o seu devido lugar. Agora, por exemplo, a um mês da eleição do novo presidente do PT, Lula detectou o risco de derrota de seu candidato, Ricardo Berzoini, caso haja segundo turno, e já partiu para a ação no sentido de arrefecer os ânimos dos mudancistas. Neles, o presidente não enxerga apenas as alegadas intenções de corrigir rumos e fortalecer o partido para as futuras disputas eleitorais sem a sua presença na linha de frente. Até porque Lula não parece minimamente disposto a se afastar dela - seja como protagonista ou coadjuvante privilegiado. Com a autoridade de criador e profundo conhecedor das idiossincrasias da criatura, Lula vê projetos de candidaturas presidenciais por trás das candidaturas adversárias de Berzoini. No caso de Jilmar Tatto (o segundo mais bem cotado nas previsões petistas), a postulação de Marta Suplicy ao Planalto, e no de José Eduardo Cardozo, a de Tarso Genro. Como não nutre simpatia por nenhuma das duas hipóteses de candidato a presidente da República e quer manter o processo de sua sucessão sob controle estrito, Lula considera fundamental a permanência das coisas tais como estão no partido. Não pretende abrir espaço a surpresas ou questionamentos ao governo nesse período tão sensível. À falta de Marco Aurélio Garcia, candidato preferido de Lula, mas vetado internamente, o homem para assegurar o comando direto do Planalto sobre o partido é Ricardo Berzoini. Mas ele começou a perder fôlego na proporção inversa do crescimento do movimento das outras candidaturas em torno de um pacto de unidade contra ele em possível segundo turno, nas eleições marcadas para 2 de dezembro. Juntou-se a isso a falta de compromisso da militância filiada (votante, pois as eleições no PT são diretas) com a candidatura de Berzoini, muito em função do tratamento dado a ele por Lula quando precisou, na campanha da reeleição, marcar distância dos “aloprados” do dossiê antitucano. Devidamente informado, Lula já começou a agir. Muito discretamente e em caráter extra-oficial. Para todos os efeitos, o PT tem vida própria e o presidente da República não interfere nela. Como primeira medida de precaução, mandou abrir entendimentos com o grupo de Jilmar Tatto por intermédio dos deputados Rui Falcão (estadual) e Cândido Vaccarezza (federal), na tentativa de convencê-lo a pôr o pé do freio: seja no ritmo de campanha de Tato - frenético, em busca de apoio de petistas no País inteiro - ou na idéia de união às outras tendências para derrotar Berzoini no segundo turno. E disso tudo fica o seguinte: nessa eleição para presidente do PT não interessa a vitória do melhor quadro nem a aposta no projeto de revitalização do partido. Está em jogo mesmo é o manejo da máquina de fazer votos com vistas à manutenção do poder. Muito justo, mas é bom esclarecer. Tapete vermelho As negociações sobre o roteiro da cerimônia do adeus do ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil incluíram um período de carência e a entrega da carta de demissão diretamente ao presidente Lula - privilégio tentado, sem sucesso pela ex-diretora Denise Abreu. Pelo visto ontem na entrevista de Milton Zuanazzi, previram também espaço para uns tiros em Nelson Jobim, a título de saída honrosa. Nada grave, mas suficiente para registro biográfico. Afinal, dizer que o ministro não “entende nada de aviação” não é denúncia, é constatação, inclusive já feita por Zuanazzi em depoimento no Congresso a respeito da própria qualificação. Tais prerrogativas, porém, comprovam o dito: quem tem padrinho não morre pagão. Finados Termina amanhã o prazo dado pela oposição para que os processos do senador Renan Calheiros estejam prontos para discussão do mérito e votação no Conselho de Ética. Sem isso, diziam os bravos na véspera do pedido de licença do presidente do Senado, haveria obstrução da pauta em geral e da CPMF em particular. Pois o prazo finda, os processos não andaram e ninguém mais fala em punição ou obstrução. Ao contrário, o clima é de franca negociação para a prorrogação da CPMF e de evidente tendência a deixar o caso Calheiros por isso mesmo, ao custo baixo da licença. Noves fora, os oposicionistas perderam a moral para dizer que o PT diz uma coisa e faz outra. Em matéria de faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço rezam todos pela mesma cartilha.
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